domingo, 28 de fevereiro de 2010

UP - as grandes e pequenas aventuras de se estar vivo, é o melhor filme da Pixar e um dos melhores do ano





Não é de hoje que a Pixar tem a fama de Midas do mundo do entretenimento. Desde 1995, com Toy Story, passando por Vida de Inseto, Monstros S.A, Procurando Nemo, Os Incríveis, Carros, Ratatouille e Wall-E, todas as animações em 3-D da companhia de Steve Jobs são referência para a animação, por um simples motivo: toda a evolução em software esteve sempre a serviço de roteiros criativos e ousados.

Tamanho foi o estrago da Pixar sobre os desenhos em 2-D da Disney que ela se viu na obrigação de se unir à concorrente, sob pena de desaparecer. Muitas brigas depois, as duas empresas se entenderam, com a Pixar na criação e Disney na distribuição.

O mais recente filme da Pixar-Disney, UP, que em português chama-se Altas Aventuras, é simplesmente o melhor filme já produzido pela companhia. E digo mais: está entre os três melhores dos dez indicados ao Oscar deste ano.

O crítico Luiz Carlos Merten, do Estadão, escreveu que Ratatouille era um dos melhores filmes de 2008, lembrando que a estória do ratinho cozinheiro atualizava Proust,quando o rigoroso crítico prova um prato que o leva à sua infância.

Wall-E quase não tem diálogos em sua primeira parte (e quem é louco de lançar um filme sem dialogos hoje em dia?) e faz uma tremenda crítica ao futuro da humanidade, preguiçosa e obesa.

UP é um conto sobre os grandes e pequenos feitos da existência humana. Sobre como estes dois extremos podem ser mais próximos do que a gente imagina. O filme sugere que envelhecer ao lado do grande amor de sua vida é uma aventura tão excitante quanto desbravar uma paraíso desconhecido na América do Sul. O tédio, a rotina, o cotidiano de uma relação de muitos anos, todos aqueles rituais diários, tudo aquilo que leva as pessoas a terminarem suas relações, toda esta pequenez da vida do ser humano, isso é a grande aventura de estar vivo.

Carl Fredericksen é o simpático velhinho vendedor de balões que na infância sonhava em ser explorador de novos mundos. Conhece a tagarela Ellie, com quem se casa, mas ela não pode ter filhos. Ellie morre e a casa de Fredericksen está atrapalhando a construção de um edifício.

O filme trata dos sonhos interrompidos, dos planos não-realizados, das frustrações a qual todo mundo está sujeito. Do dinheiro economizado para aquela viagem tão sonhada, cujo projeto foi interrompido estupidamente pela morte. Da necessidade de seguir adiante, por mais que nada em volta faça sentido.

Quando a casa de Frederickson voa inflada com balões rumo a um lugar desconhecido, é inevitável comparar UP a O Magico de Oz (coincidentemente, em 1939 dez filmes foram indicados ao Oscar). Lá atrás, o vendaval em preto e branco sacudindo a casa de Dorothy encantou as platéias com seus efeitos visuais ainda primários, mas convicentes. Com seus balões coloridos, UP recupera este espírito de abertura para o desconhecido.

Haverá o momento do desprendimento, quando nem a presença física da casa, carregada como um peso ás costas do protagonista, fará sentido algum. Esta é a verdadeira aventura de se estar vivo: ter a coragem de olhar para trás, sorrir com as lembranças, jogar fora o que já não mais serve e seguir adiante, de cabeça erguida, pois a vida, por mais dura que seja, a todo instante se abre para as grandes conquistas e para os pequenos milagres do cotidiano, ainda que escondidos sob a mesmime da rotina.

Nenhum comentário: