segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Nine é fraco como filme e sofrível como musical





Oito e Meio (1963) é um dos maiores filmes de todos os tempos, se não o maior. É exemplar maduro do moderno cinema que se começou a fazer nos anos 50, na Europa, com toda a geração de Fellini e Antonioni. Uma geraçao que abriu caminho para a piazada dos Cahiers da Nouvelle Vague, que por sua vez arejou as mentes de gente como Altmann, Coppola, Penn e Scorsese nos 70.
Em Oito e Meio, a angústia feliniana perante a vida e o ser humano ganha um tom de sonho: as mulheres do harem de Guido Anselmi, a relação com a igreja, os conflitos sexuais, a pressão sobre o criador, as mulheres, tudo é visto sobre um olhar masculino que em alguns momentos é infantil como uma criança no circo, em outros é perdido como alguém que precisa da mãe diante das dificuldades da vida.
É uma obra para ser vista muitas vezes. Não lembro bem, mas acho que foi o escritor Ignácio de Loyola Brandão quem afirmou ter visto Oito e Meio mais de 80 vezes.
Oito Meio está em All That Jazz, obra-prima de Bob Fosse sobre a crise de criatividade e sobre a masculinada perdida nestes tempos modernos.

NINE dá a impressão que o diretor BOb Fosse não assistiu nem ao Oito e Meio nem ao musical de Fosse.
O filme é uma pastelada dessas difíceis de engolir e de fazer ao ponto de fazer a gente se perguntar: O que faz um sujeito reunir o dream team da estética cinematográfica feminina mundial (Nicolle Kidmann, Penélope Cruz, Marion Cotillard) secundadas por Sophia Loren, Jude Dench, Katie Hudson, Fergie e por toda essa mulherada para cantar umas melodias banais com letras sofríveis e dançar umas coreografias de festas de escola?

Não sei.
NINE é a adaptação para as telas de um musical que por sua vez é inspirado em Oito Meio. Como filme, é triste ver Daniel Day Lewis sendo perseguido por todas estas mulheres, escondido em seus óculos escuros, acuado em sua crise de criatividade e em crise no casamento. Inevitável, porem injusto, lembrar do Guido Anselmi do eterno Mastroiani. O que o ator italiano tinha, pelas mãos de Fellini, de dúvida e descrença, Lewis tem de chatice e pamonhice.
O filme se sustenta como uma colagem de momentos desconexos entre si, com o Guido de Lewis fugindo de suas responsabilidades e tentando equacionar os apelos da esposa e amante. Como filme, não consegue segurar ou desenvolver sequer uma linha dramática. Como musical, dói. Os números, sugeridos no filme como sendo do plano da imaginação ou das lembranças, invadem o drama. São coreografias banais, apresentadas no mesmo cenário do filme que Guido deve começar a filmar.
Tudo que existia de denso em Oito e Meio foi digerido e transformado aqui em algo mais, digamos, palatável para as massas. Perdeu-se a dimensão misteriosa e complexa dos relacionamentos de Guido com as mulheres. Em NINE, estas relações se tornam draminhas rasos de amor e ciumes conjugais. Perdeu-se aquele tom de alegria triste, ou de tristeza alegre, caracterítico da obra de Fellini, em prol de uma celebração vazia da midiatização sobre a figura do artista.
Foi, confesso, uma das grandes frustrações dos últimos tempos.

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