segunda-feira, 16 de março de 2009

ENTRE OS MUROS VISÍVEIS E INVISÍVEIS






Há um bom tempo não se falava tanto de um filme francês. Desde o final dos anos 60, quando uma geração de jovens críticos e cineastas criou as bases do que veio a se chamar Nouvelle Vague, a produção cinematográfica da França andava meio apagada. Nas décadas seguintes, foi abafada pelo cinema italiano dos 70, tendo que se contentar com uma ou outra produção de Godard ou Truffaut – só para citar dois exemplos.

De lá para cá, a terra onde os irmãos Lumière projetaram os primeiros filmes em público vem se debatendo entre um cinema autoral de pouca expressão fora dos país e filmes mais comerciais, restritos ao circuito local. Mais recentemente, teve que se contentar com a aclamação mundial das produções de vizinhos como a Romênia , a Alemanha e a Itália.

Daí que a badalação em torno de Entre os Muros da Escola ganha um sabor especial. Ganhador da Palma de Ouro em Cannes no ano passado, o filme vem sendo muito elogiado e assistido onde é exibido – num dos raros casos de entendimento entre crítica e público.

Um breve resumo do que trata do filme não chega a empolgar. Trata-se do retrato do relacionamento entre um professor e seus alunos em uma turma de sétima série em escola pública nos subúrbios de Paris. Até aí nada de novo, ou pelo menos nada que não tenha sido explorado em outras produções.

Fosse um produto do cinema americano, o filme seguiria o previsível caminho de mostrar jovens rebeldes que são inspirados por um professor obstinado em ver neles qualidades ocultas, com direito a um final feliz onde os alunos reconhecem seu crescimento espiritual e intelectual transmitido pelo mestre. Haveria uma mensagem, uma idéia moral a sustentar a narrativa.

Nas mãos do diretor Laurent Cantet, Entre os Muros da Escola se torna uma crônica, por vezes cruel e desanimadora, mas nunca derrotista, de uma sociedade fragmentada em subculturas impossíveis de conviverem em harmonia no espaço da sala de aula. Os alunos do professor de Francês François Begaudeau pertencem a diversas etnias: africanas, latinas, orientais. São jovens de 13 a 15 que não chegam a ser totalmente marroquinos, hispânicos ou chineses, pois nasceram em território francês, mas também não se sentem totalmente franceses.

Os meninos e meninas tem seus próprios códigos culturais muito bem marcados em suas gírias, roupas, interesses (na maioria limitados a rap, futebol e games de computador). Compõem um mosaico da sociedade francesa contemporânea, que já não consegue mais varrer para debaixo do tapete a existência dos imigrantes vindos das antigas colônias e seus filhos.

Se limitado ao registro de imigrantes ou excluídos, o filme poderia soar limitado e de pouco interesse fora da França. No máximo seria objeto de curiosidade para quem quer saber um pouco mais sobre o gravíssimo problema da inserção dos imigrantes em uma Europa cada vez mais assumidamente racista e conservadora. (A ascensão dos movimentos neo-nazistas e os assassinatos de imigrantes falam mais alto).

A grandeza deste pequeno e despretensioso filme vai além dos “muros” geográficos. Ela fala com simplicidade da nobreza do ato de educar e quando este ato se faz mais necessário, ainda que os que mais precisem dele não tenham sequer a capacidade ou habilidade para compreender e valorizar a escola e o professor.

O que vem atraindo a atenção para o filme é sua disposição em trazer, sem meios tons, sem discursos sociológicos ou argumentos morais, sem preconceitos ou medos, a dificuldade brutal que é compreender e ser compreendido e como a instituição escolar molda quem nós somos e como reagimos ao mundo.

Dito de outra forma, o que filme traz à tona é o questionamento sobre o próprio papel da escola na vida do ser humano. Mais ainda, ele pergunta – nunca diretamente: por que aprendemos? Por que temos que aprender? Quem diz o que é mais importante aprender? E quem garante se o que se aprende serve para alguma coisa fora da escola?

Para além dos debates – e eles serão muitos – sobre o poder transformador da educação, Entre os Muros da Escola pode ser visto como um painel crítico da comunicabilidade humana e o quanto ela é limitada para expressar a grandeza que cabe dentro de um ser humano. O professor François, francês e branco, leva aos extremos suas tentativas, na maior parte das vezes frustrada, de se fazer entender pelos seus alunos malineses, marroquinos e argelinos.

Quase todo passado dentro da sala, o filme não mostra as aulas no sentido convencional. Ele mostra conflitos verbais, que dos dois lados, do professor e dos alunos, servem-se das palavras como armas. De um lado, um educador empenhado em ensinar conceitos que simplesmente não têm nenhum eco no espírito dos alunos. Do outro, jovens revoltados, desanimados, frustrados, que não conseguem ver sentido nos ensinamentos.

A forma documental como o diretor Cantet filma estes embates, com câmera na mão e deixando espaço para improvisação do elenco, dá esta sensação de agressividade mútua. Todos os personagens falam muito, como se as palavras fossem uma forma de demarcar um espaço, de afirmar uma identidade, de testemunhar a própria existência. Ou de admitir o fracasso da própria linguagem como mediadora de pensamentos e sentimentos.

A beleza do filme também está na construção do personagem do professor François – que também é autor do livro homônimo que inspirou o filme. No desespero, ele recorre à ironia para sinalizar a total ignorância de seus alunos. Quer ensinar tempos verbais que não são mais usados e métrica em poesia, mas mal consegue se fazer entender com expressões básicas como “ter uma pulga atrás da orelha”.

O que nós testemunhamos é o conjunto de suas batalhas diárias, disfarçadas muitas vezes atrás de um sorriso nervoso e amarelo, de um desânimo e de um cansaço que se aproximam da derrota total. Neste sentido, nos identificamos com ele e em alguns momentos sentimos sua frustração, até o ponto em que ele próprio perde a paciência com duas alunas e as ofende. É quando o papel do professor cede lugar ao do homem, falível, passível de erro e cansado de guerrear com o resultado de todo um conjunto de omissões e erros sociais, históricos e políticos, anteriores à ele mesmo e à própria escola.

O título original não tem os muros da tradução brasileira. Justamente porque os muros de concreto do lado de fora seguem com os alunos para a sala de aula. E dentro dela eles se revelam intransponíveis. Mas o que mais toca no professor François é a sua disposição para olhar o muro, visível ou não, e sentir-se na obrigação de tentar ultrapassá-lo, mesmo sabendo que esta tarefa será impossível.

O apelo do filme é universal porque as situações retratadas não fogem muito da realidade enfrentada por professores de escolas da periferia. No Brasil, são comuns os relatos de alunos que espancam colegas e professores, alunos que vão para a aula alcoolizados, drogados e armados. Jovens que levam seus muros pessoais para o ambiente escolar, que deveria ser justamente o apropriado para pular estes obstáculos. Mas será mesmo que todo o sistema de ensino, sobretudo o voltado para os jovens, pode continuar divorciado do mundo real em que vivem os alunos? Esta foi uma das questões levantadas pelo diretor Laurent Cantet em sua passagem pelo Brasil para promover o filme.

Ciente e quem sabe desesperado diante do cenário em que se insere, o professor François desiste de seguir as cartilhas escolares e questiona a intenção que há por trás das palavras do alunos, fazendo com que eles tentem refletir sobre o verdadeiro sentido de suas manifestações. É em instantes assim que ele se torna um mestre, um educador de verdade, daqueles que iluminam a alma dos seus alunos, ao fornecer a eles, mesmo contra suas vontades, um instrumento, minúsculo que seja, para que eles pensem por si mesmos.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Curso apresenta a história do cinema, filmes e diretores

Estão abertas as inscrições para o curso CINEMA – Introdução à História e à Arte dos Filmes e Cineastas.
O curso é aberto a todas as pessoas interessadas em aprofundar seus conhecimentos sobre cinema, bem como ter contato com filmes, diretores, estilos e estéticas essenciais na história do Cinema.
Não há limite de idade ou exigência de conhecimento prévio ou formação específica.
O curso é direcionado para a apreciação e não para a produção de filmes.
As aulas, que começam no dia 10 de março, serão às terças-feiras, das 19h10 às 21h45. Este módulo vai até junho de 2000.
Os encontros vão abordar desenvolvimento histórico do cinema, seus principais movimentos, realizadores e obras mais significativas; o filme como arte e produto da indústria do entretenimento; noções de linguagem; elementos para a análise fílmica; produção cinematográfica nacional e contemporânea.
A programação do curso envolve aulas dinâmicas, com exibição de trechos de vários filmes, indicações de títulos relevantes da cinematografia mundial e bibliografia especializada. A intenção é fornecer elementos para a formação crítica do espectador.
O Studio Botteri fica na Rua Santo Antonio, 41, no bairro Rebouças, atrás do Quartel da Polícia Militar na Getúlio Vargas e a três quadras do Estação Embratel. Vagas são limitadas.


SERVIÇO
Curso “CINEMA – História, Arte e Entretenimento”
De 10 de março a 25 de junho de 2009
Às terças, das 19h10 às 21h45
Início: 10 de março
Local: Studio Botteri (Rua Santo Antonio, 41, Rebouças, Curitiba)

INFORMAÇÕES

alfekur@terra.com.br
janelaind@yahoo.com.br

Fone:41- 91813749

CINEMA – Introdução à História e à Arte dos Filmes e Cineastas começa dia 11 de março no Studio Botteri, no Rebouças

domingo, 1 de março de 2009

Curso HISTÓRIA DO CINEMA começa 11 de março

Meu curso, INSTRODUÇÃO À HISTÓRIA E ESTÉTICA DO CINEMA,edição 2009, está com turma aberta. Início dia 11 de março.
Toda terça, das 19h às 21h40, com o sagrado intervalo para café e para falar de filmes, é claro.
Requisito: gostar de cinema, de ver filmes e só.
Amanha vou postar mais detalhes sobre.

Oscar 2009 deixa o cinema mais pobre

Como era previsto, Quem quer ser um milionário? levou os prêmios principais.

Nem de longe é o melhor filme de Danny Boyle, sujeito que para mim será lembrado pelo divertido e criativo Trainspotting.

Talvez uma explicação para esta folia toda em cima de um filme bem feitinho, bonitinho e só isso esteja no momento em que vivem os Estados Unidos.

A braveza da crise econômica exige um contraponto de esperança, de crença na possibilidade de felicidade apesar de todas as dificuldades. Dai o filme capitalizar para si este clima pós-Obama.

Reproduzo abaixo trecho do blog Ilustrada no Cinema, no qual o crítico Leonardo Cruz fala sobre o filme e o Oscar

"se o Oscar representa uma peça importante da história do cinema, então esta ficou um pouco mais pobre nesta noite. A vitória avassaladora de “Milionário”, um filme no máximo mediano, só não é mais lamentável, nesta década, do que os 11 Oscars dados a “Senhor dos Anéis” em 2004. E as ausências de “Wall-E” e “Gran Torino” da disputa de melhor filme só reforçaram esse sentimento de frustração."