quinta-feira, 30 de abril de 2009

Em exibição os primeiros minutos de um filme

Gilles Jacob, presidente do Festival de Cannes, quer abrir o site do festival para exibir os 5 minutos iniciais dos fimes programados na seleção oficial do evento, na época de sua estreia nos cinemas (estreia na França, supõe-se).

Nenhum diretor ou distribuidor é obrigado a fazê-lo, mas Jacob está oferecendo essa
possibilidade, já que o site acaba de ser reformulado visualmente e
está hospedado em um provedor de banda larga de grande capacidade.

"Não me lembro se foi Altman ou Renoir que dizia que os grandes
diretores atingiam a sua melhor forma na primeira e na última bobina
do filme. Esperamos que o internauta deixe um pouco de lado seus
videogames e game-boys e fique tentado a correr ao cinema mais próximo
para descobrir o resto do filme".

(Fonte: UOL, 24/04, matéria)

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Livro sobre cinema para baixar grátis

Quem procura uma introdução bem direta à História do Cinema, com contextualização e lista dos filmes principais de cada período ou estética, pode acesar o blog Dissertando sobre Cinema.

O autor, Nelson Barbosa, disponibiliza para download gratuito em PDF a sua obra Cinema - Arte, Cultura e História, que dá uma base introdutória interessante e bem didática sobre o assunto.

(Justiça seja feita: a dica é da Simone, aluna do nosso curso de História e Estética do Cinema)

Cinema Vivo atualiza Dogma 95 em São Paulo

Tem novidade na produção nacional. Bem ao estilo Dogma 95, um grupo de realizadores de São Paulo lançou o Cinema Vivo, que tem como proposta, em seu manifesto publicado no
site do grupo " a captação, edição e exibição simultâneas: câmeras na mão, em diferentes locações acessíveis ao público, transmitindo ao vivo para um computador, com edição em tempo real, que projeta o filme na tela de cinema".

Algumas regras para a criação do roteiro desta proposta:

- Não há cortes numa mesma locação.
- Um personagem não pode sair de uma locação e aparecer em outra imediatamente.
- Movimentação de câmera não extravagante.
- Três principais locações, com possibilidades de sublocações (de acordo com o alcance da tecnologia).
- Nas imagens externas, sempre as mesmas condições do ambiente e meteorológicas: sempre é dia, ou sempre é noite, ou sempre está nublado.
- As trocas de figurino e maquiagem devem ser rápidas e feitas na própria locação
- As cenas não podem ter duração muito breve, para dar tempo de deslocamento de atores de uma locação para outra.
- As cenas precisam ser expandidas, iniciando antes e terminando depois das ações principais, para possibilidade do corte ao vivo.
- Há espaços para improvisações, cacos, e inserções de informações atuais cotidianas nos diálogos dos personagens.
- Criação de jogos de aproximação e afastamento da diegese com o público.

O primeiro longa da turma tem o sugestivo nome de Fluidos e está sendo produzido neste momento. É esperar para ver. No site é possível inclusive acompanhar vídeos dos ensaios da equipe.

Sei que não tem nada ver, mas agora lembrei: alguém viu aquele longa gravado em Porto Alegre, "Ainda Orangotangos", todo em Plano-Sequência? Não chegou nem perto daqui e eu estava muito curioso para ver.

Um mês depois de São Paulo, CHE chega a Curitiba

Não fiz a conta na ponta do lápis, mas Curitiba (sem contar a região metropolitana) deve ter umas 70 salas de exibição. Está, se não me engano, entre os cinco maiores circuitos exibidores do Brasil.

Então se o problema não é do circuito deve ser de distribuição mesmo.

Pois, bem, quase 30 dias depois de ser lançado em São Paulo, o CHE de Soderbergh chega ao circuito curitibano, em seis salas.

Uma pergunta: quando vem o espetacular VALSA PARA BASHIR?

terça-feira, 14 de abril de 2009

Festival de cinema universitário abre inscrições

Estão abertas até as inscrições para o Festival Brasileiro de Cinema Universitário.
O evento acontece de 29 de julho a 9 de agosto.
Para a mostra competitiva nacional serão aceitos filmes de até 30 minutos de duração, concluídos a partir de 2007 e não exibidos em edições anteriores do festival.
A direção e pelo menos outras três funções técnicas devem ter sido ocupadas por universitários à época de realização do curta.
Mais informações e inscrições no site: www.fbcu.com.br

sexta-feira, 10 de abril de 2009

Filmes brasileiros em 2009

A Revista de Cinema publicou uma relação dos longas brasileiros de ficção em fase de pré-produção, ou seja, aqueles que ainda serão filmados e finalizados.
A maioria das produções é do eixo RJ-SP e assinada por cineastas que já tem uma filmografia sólida, mas tem muitos nomes novos na lista.
Resta saber quando estas produções serão lançadas e no caso de Curitiba quando serão exibidas por aqui.


1. A Alegria - Felipe Bragança (RJ - Pecego Produções)
2. A Erva do Rato - Júlio Bressane (RJ - República Pureza Filmes)
3. A Floresta é Nossa - Paulo Munhoz (PR - Teknokena Audiovisual e Multimídia)
4. A Morte de Quincas Berro D’Água - Sérgio Machado (RJ – Videofilmes)
5. A Última Estação - Márcio Curi (DF - Asacine Produções)
6. A Vida no Campo - Valter Moreira (SP - VMV Produtora)
7. Amor Sujo - Paulo Caldas (RJ - Bananeira Filmes)
8. Antes da Noite - Toni Venturi (SP - Olhar Imaginário – Filmagem em outubro/2008)
9. As aventuras do avião vermelho - Frederico Pinto/José Maia (RS - Camila Gonzatto/Frederico Pinto)
10. As Doze Estrelas - Luiz Alberto Pereira (SP - Lapfilme Produções Cinematográficas)
11. Bateau Mouche - 20 anos depois - Cavi Borges/Júlio Pecly/Paulo Silva (RJ – Cavídeo)
12. Besouro - João Daniel Tikhomiroff (SP - Mixer/Buena Vista International/Globo Filmes - Filmagem em setembro/2008)
13. Bruno quer o paraíso - Flávio Cândido (RJ - Cândido & Moraes)
14. Capitães de Areia - Guy Gonçalves/Cecília Amado (RJ - Lagoa Cultural e Esportiva/Araçá Azul)
15. Chibata - Marcos Manhães Marins (RJ - Fibra Cine Vídeo – Filmagem em novembro/2008)
16. Do Amor - Gisela Callas (SP)
17. É Proibido Fumar - Anna Muylaert (SP - Africa Filmes/Dezenove Som e Imagens)
18. Faroeste Caboclo - René Sampaio (RJ -De Felippes Filmes e Produções)
19. Fala Sério! - Augusto Seva (SP - Albatroz Cinema - Filmagem no segundo semestre/2008)
20. História de um Valente - Cláudio Barroso (PE - Camará Filmes)
21. Histórias de Fronteira - Juan Zapata (RS - Estação Elétrica Filme e Vídeo/V2 Cinema/Zapata Filmes)
22. Histórias de um amor duram apenas 90 minutos - Paulo Halm (RJ - Tipos e Tempos Produções)
23. Hoje -Tata Amaral (SP - Tangerina Entretenimento)
24. Jean Charles - Henrique Goldman (SP - TV Zero)
25. Leões da Mata Atlântica -Michel Tikhomiroff (SP - Mixer/Buena Vista International/National Film Board/Discovery Channel Canadá)
26. Mano - Laís Bodanzky (SP - Gullane Filmes)
27. Mão na Luva - Roberto Bomtempo (MG/RJ - Sala 2/Movimento Carioca - Filmagem em março/2009)
28. Marcha Pela Vida - Jessica Sanders (SP - Latinamerica Internacional/Conspiração Filmes - Filmagem em abril-maio/2008)
29. Meninos de Kichute - Luca Amberg (SP - Amberg Filmes)
30. Não se pode viver sem amor - Jorge Duran (RJ - El Desierto Filmes/Luz Mágica Produções Audiovisuais)
31. Não se preocupe, nada vai dar certo...- Hugo Carvana (Mac Comunicação e Produção)
32. Nervos de Aço - Maurice Capovilla (RJ - Saturna Produções Artísticas)
33. O Bem Amado - Guel Arraes (RJ - Natasha Enterprises)
34. O Contador de Histórias - Luiz Villaça (SP - Francisco Ramalho Júnior Filmes)
35. Corpo do Rio - Izabel Jaguaribe (RJ - Jaguar Produções Artísticas)
36. O Fim e os Meios - Murilo Salles (RJ - Cinema Brasil Digital)
37. O Homem que não dormia - Edgard Navarro (BA - Truque Produtora de Cinema - Filmagem em agosto/2008)
38. O Senhor do Labirinto - Geraldo Motta (RJ - Tibet Filmes)
39. Os famosos e os duendes da morte - Esmir Filho (SP - Dezenove Som e Imagens)
40. Os sonhos não envelhecem - Roberto Bomtempo (MG/RJ - Movimento Carioca - Filmagem em novembro/2009)
41. Panis Et Circensis – Tropicália 40 anos - Francisco César Filho (SP - Anhangabaú Produções)
42. Paradeiro - Gilson Vargas (RS - Clube Silêncio)
43. Peixonauta - Kiko Mistrorigo (SP - PG Produções de Cinema Video e TV)
44. Plastic City - Yu Lik-Wai (SP - Gullane Filmes/Xstream Pictures (Hong Kong)
45. Poder Paralelo - Roberto Farias (RJ - RF Cinema e TV)
46. Por um punhado de dólares - Os Novos Emigrados - Leonardo Dourado (RJ - Telenews Service)
47. Quase Memória - Ruy Guerra (RJ - Studio Uno Produções Artísticas)
48. Querido Pai - Chico Faganello (SC - Faganello Comunicações - Filmagem em outubro/2008)
49. Quixote nas Trevas - Jom Tob Azulay (RJ - Bossa Produções - Filmagem no segundo semestre/2008)
50. Raul – O início, o fim e o meio - Alain Fresnot (SP - A. F. Cinema e Vídeo)
51. Reflexões de um Liquidificador - André Klotzel (SP - Brás Filmes - Filmagem em julho/2008)
52. Se eu fosse você 2 - Daniel Filho (RJ - Total Entertainment)
53. Sé... Quando a carne é fraca - Eduardo Ramos (CE - Imagem Produções Artísticas)
54. Somos um bando de loucos - Reinaldo Pinheiro (SP - Seqüência 1 - Filmagem no primeiro semestre/2009)
55. Trampolim do Forte - João Rodrigo Mattos (BA - Docdoma Filmes - Filmagem em novembro/2008)
56. Tropicália – Marcelo Machado (SP – Bossa Nova Films/Mojo Pictures/Fernando Meirelles)
57. Uma professora muito maluquinha (RJ - Diler & Associados/The Raldo Estúdio de Arte e Propaganda)
58. Vendo ou Alugo - Betse de Paula (RJ - Aurora Cinematográfica/Raccord - Filmagem no segundo semestre/2008)
59. Xuxa - Rudi Lagemann (RJ - Conspiração Filmes/Xuxa Produções - Filmagem em julho/2008)

Hollywood assume crise de criatividade

Os estúdios vêm recontando histórias desde os primórdios do cinema, mas no último ano, e especialmente nos últimos meses, a máquina dos remakes vem funcionando a pleno vapor.

Os anos 1980 viraram uma grande feira de títulos. "Tudo por uma esmeralda", "Footloose - Ritmo louco", "A hora do pesadelo", "Duna", "Karatê Kid", "Amanhecer violento", "Robocop - O policial do futuro", "O reencontro", "Arthur - O milionário sedutor", "Os caça-fantasmas" e "História sem fim" são apenas alguns dos títulos dessa década que estão sendo desenvolvidos novamente em Hollywood.

Os produtores dizem que hoje é comum vasculharem listas de sucessos de décadas passadas para analisar o que poderia ser legal e criativamente mais fácil de ser reembalado e montado num estúdio.

"Hoje em dia, se você quer fazer um filme, pode empurrar uma pedra grande morro acima ou pode empurrá-la no plano", disse um produtor de estúdio, explicando a lógica por trás dos remakes. "A maioria de nós prefere empurrar no plano."

Quando o filme "Transformers" decolou, seus responsáveis foram procurados pela linha de brinquedos Hot Wheels, da Mattel, que perguntou se eles gostariam de contar uma história envolvendo a marca. A resposta foi negativa, mas um filme com os carrinhos Hot Wheels está em desenvolvimento agora na Warners.

O ciclo que vai do original ao remake vem ficando cada vez mais curto. Como "Velozes e furiosos 4", que reúne o elenco principal e os roteiristas do filme original de 2001 e ocupa um terreno a meio caminho entre uma sequência e um remake, outros filmes estão voltando em nova roupagem em menos tempo do que nunca.

Neil Moritz, que produziu "Furiosos", está desenvolvendo uma nova versão do sucesso de ficção científica de 1990 "O vingador do futuro" e também relançando "XXX - Triplo X", que chegou aos cinemas há apenas sete anos. "Lara Croft" está ganhando novo tratamento de Dan Lin e da Warner Bros., apenas oito anos após o original com Angelina Jolie. A Fox já pensa em relançar sua franquia "Quarteto fantástico", cujos dois filmes fizeram sucesso há poucos anos. E a Sony anunciou recentemente que vai trazer "Homens de preto" de volta para mais uma aventura.

Ninguém está dizendo que "Titanic" ou "Forrest Gump" serão refilmados - por enquanto, pelo menos - mas o fato de que o público teen geralmente não se recorda de nenhum filme de mais de 15 anos atrás é um fator chave para o sucesso dos remakes. Dentro de um dois anos, os cinemas poderão exibir os mesmos títulos que foram lançados pela primeira vez durante o governo Clinton. Nas palavras de um produtor, "os anos 1990 já são terreno fértil".
(fonte: G1)

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Filmes italianos na Cinemateca salvam feriado cinematográfico fraco

Cinéfilos curitibanos: a programação deste feriado é de chorar. Simplesmente não tem nada de interessante no circuito.
Com exceção de títulos que já estão em pré-estréia há algumas semanas, em sessões e horários restritos, o que entra em cartaz não chama muito a atenção.
A Cinemateca salva o feriado com uma Mostra de Cinema Italiano dos anos 70, 80 e mais recente.
O interessante é que esta programação não está no site da Fundação Cultural. Aparece apenas na agenda do portal Onda RPC. É bom conferir antes de ir.

Sexta-feira (10/04):
-16h: Represália (Rappresaglia – Itália; 1973; 107 minutos. Direção de George Pan Cosmatos)
-20h: Os Cem Passos (I Cento Passi – Itália; 2000; 114 minutos. Direção de Marco Tullio Giordana)

Sábado (11/04):
-16h: Quatro Dias De Rebelião (Le qattro giornate di Napoli – Itália; 124 minutos. Direção de Nanni Loy)
-20h: Cem Dias Em Palermo (Cento Giorni a Palermo – Itália; 1984; Direção de Giuseppe Ferrara)

Domingo (12/04):
-16h: O Crocodilo (Il Caimano – Itália/França; 2006; 112 minutos. Direção de Nanni Moretti
-20h: O Caso Aldo Moro (Il Caso Moro – Itália; 1986; 114 minutos. Direção de Giuseppe Ferrara

terça-feira, 7 de abril de 2009

Animações premiadas no YouTube

Viva o Youtube!!!!! A grande rede de compartilhamento de vídeos é o maior circuito exibidor do mundo ao permitir que a gente tenha acesso a obras muito bacanas, que de outra forma nunca seriam exibidas aqui.

Minha dica é o curta de animação vencedor do Oscar deste ano: Les Maisons en Petis Cubes, do japonês Kunio Kato.

Joque o nome do diretor no YouTube e assista ao filminho, em duas partes. É maravilhoso. Um pequeno e poético tratado sobre a solidão, sem nenhum diálogo.

O mesmo YouTube tem um espaço Screening Room, onde é possível assistir a muitos curtas de animação. Entre eles, o imperdível e belo The Danish Poet.

Por que você faz cinema?

No CD Fábrica do Poema, de 1994, de Adriana Calcanhoto, tem uma música chamada "Por que você faz cinema?", em cima de um texto do cineasta Joaquim Pedro de Andrade. Reproduzo abaixo a letra.
O primeiro verso "para chatear os imbecis" se aplica a boa parte da produção atual, que mira um espectador infantilizado e anestesiado por uma profusão de bobagens no cinema e na TV.
Quem hoje corre o risco de ser desmascarado pelo grande público? Quem é louco de insultar os arrogantes?

POR QUE VOCÊ FAZ CINEMA

Para chatear os imbecis,
para não ser aplaudido depois de seqüências
dó de peito
para viver à beira do abismo,
para correr o risco de ser
desmascarado pelo grande público,
para que conhecidos e
desconhecidos se deliciem,
para que os justos e os bons ganhem
dinheiro, sobretudo eu mesmo, porque de outro jeito a
vida não vale
a pena,
para ver e mostrar o nunca visto,
o bem e o mal, o feio e o
bonito,
porque vi "simão no deserto",
para insultar os arrogantes e
poderosos quando ficam como "cachorros dentro d'água"
no escuro
do cinema
para ser lesado em meus direitos autorais.

Por que os filmes alternativos não chegam a Curitiba?

Não dá para entender a cabeça de quem administra o circuito exibidor de Curitiba. Frost/Nixon, Valsa para Bashir e o Che de Sordenbergh ainda não chegaram por aqui e já estão sendo exibidos há tempos em salas de Rio e São Paulo.

Será que o público curitibano não tem inteligência suficiente para ter acesso a estes filmes? Será que todos nós só queremos o filme pipoca?

Interessante notar que Curitiba está entre as capitais com maior número de salas no Brasil (se não me engano, é a quarta cidade), o que não quer dizer muito.

Custo a acreditar que a cidade não tenha um público cinéfilo mínimo para sustentar um circuito mais alternativo.

Enquanto isso, gente, vamos prestigiar as sessões mobilizadas do MovieMObz, ok? Sábados à noite, por volta das 21h, no Unibanco Arteplex do Crystal. O Visitante ainda está lá. Três Macacos já entrou em mais sessões no Novo Batel.

Três Macacos incomoda e vai na contramão do cinemão

Três Macacos, o filme turco que deu ao cineasta Nuri Ceylan a palma de ouro de Direção em Cannes, é um filme angustiante do primeiro ao último plano. Não se está aqui diante de um filme de digestão rápida e fácil. Seus longos planos e silêncios incomodam. mais que isso, eles reforçam o tempo todo a sensação de que algo está muito errado nas relações da família do motorista que assume um crime do patrão em troca de dinheiro.
Poucos filmes são tão econômicos e sintéticos na abordagem de conflitos familiares. Fala-se pouco e o pouco que se fala é geralmente mal assimilado.
Com o pai preso, o patrão seduz a mãe. O filho desempregado não vê grandes perspectivas de vida. Ainda há o fantasma do filho menor que aparece para a família.
A trilha sonora do filme é construída por ruídos da rua e sobretudo pelo vento que movimenta as cortinas do minpusculo apartamento da família. Pai, mãe e filho varreram tanta sujeira debaixo do tapete que o peso emocional deste trio é quase insuportável. É justamente este peso que o diretor filma, sem consessões fáceis. A imagem é escurecida, triste. Os planos de longa duração incomodam. A narrativa explica pouco sobre a motivação dos personagens. O que não se resolve ou não se admite, na contramão da psicanálise freudiana, vai matando aos poucos por dentro.
Dá para contrapor Três Macacos a Entre os Muros da Escola. Se neste professor e alunos se utilizam da linguagem como ferramente de afirmação social e de agressão aberta, naquele a linguagem sequer é encarada como recurso.
Melhor nada ver, nada ouvir e nada falar, bem como na parábola oriental dos três macacos.

O visitante é bom cinema sobre relações humanas

Anos atrás vi um filme maravilhoso no Cine Luz: O Agente da Estação, de Thomas McCarthy. Um conto sobre solidão em uma estação desativada, que passa a ser administrada por um anão.
Não via a hora de assistir este O Visitante, do mesmo diretor. Não deu outra. Um filme pequeno, simples, honesto, um pequeno tratado sobre a solidão e como o destino se encarrega de tocar o coração de alguém que já não sente mais nenhuma alegria pela vida.
Richard Jenkis, o veterano ator indicado ao Oscar, é o professor entediado com sua profissão. Velho demais para aprender piano, vê sua vida pacata se transformar ao conhecer dois imigrantes ilegais que ocupavam seu apartamento.
Tudo que poderia descambar para os clichês sobre encontro transformadores e amizades entre pessoas de culturas distantes ganha um verniz colorido e criativo nas mãos do diretor. Há sim, a proximidade, a amizade entre o professor o percussionista sírio e sua esposa muçulmana, a atração pela mãe do jovem, mas o encaminhamento destes encontros é sutil e natural.
A juventude, a alegria e o talento de Tarek são tudo que o professor Walter perdeu. Mas ele sabe que não vai simplesmente se apropriar de forma automática destes atributos. Mas o fato de estar próximo deles já lhe basta. Aí o filme demarca um espaço único: não concilia facilmente necessidades, mas as aproxima delicadamente.

Gran Torino : longa vida a Clint Eastwood

Sou muito suspeito para falar de Clint Eastwood. Alguns vão me apedrejar pelo que escrevo agora, mas em minha humilde opinião, ele é simplesmente o maior diretor americano em atividade. Do cinema clássico, lembro. Sua obra é herdeira à altura do legado de mestres como John Ford, Howard Haws, John Huston, Don Siegel, Sergio Leone. gente que sabia contar uma história sem frescuras e sem enfeites tecnológicos - o que parece a tendência clara da produção atual, sobretudo a o do cinemão.
Adorei Gran Torino. O grande tema da oba de Clint está lá: pais e filhos. O velho conservador, rabugento e solitário que se redime de sua paternidade falha ao adotar um jovem vizinho oriental. A necessidade de afeto familiar, ainda que por vias indiretas e não biológicas.
O velho Kowalski do filme é uma referência a outro personagem célebre imortalizado por CE: Harry Calahan, o Dirty Harry, que combatia a criminalidade eliminando a bandidagem sem dó. Só que o mundo mudou e Clint sabe disso. Daí que seu Kowalski não pode mais sair por aí resolvendo conflitos de gangues de orientais na bala. Nesta aceitação e no que ela traz de auto-sacrifício está a beleza do filme.

Spirit de Frank Miller fica devendo a Eisner

Confesso que fiquei desapontado com o Spirit de Frank Miller. Se no papel, com suas espetaculares HQs e Graphic Novels ele é um artista digno do nome, suas incursões atrás das câmeras carecem de uma consistência, de um senso narrativo mais profundo.
Sin City já deixava isso claro. O visual original, o clima noir, os contrastes de cores, camuflavam uma narrativa capenga.
Em 300, nas mãos de um diretor mais tarimbado, já se vê uma articulação mais orgânica dos eventos. Recursos do universo HQ são filtrados pelo instrumental da gramática cinemtaográfica. O resultado é um filme mais orgânico, que flui mais. Havia ali a mão visível do diretor Zack Snyder (de Watchmen)
Daí que a aguardada adaptação de Spirit saiu meio capenga. O clássico de Will Eisner ( lembro agora de uma versão teatral dirigida pelo Edson Bueno nos anos 90, no Guairinha, muito boa aliás) soa infantil, sem vibração, sem alma.
Talvez o elenco não ajude. O ator que faz o Spirit (Gabriel Match) é uma sopa de chuchu: sem sal, sem gosto, sem nada. Claro que o visual noir, os becos ameaçadores, as mulheres estonteantes (Eva Mendes, Scarlet Johansson), o vilão malvado (um Samuel Jackson cômico, que mais parece um palhaço de circo) estão lá, mas não fazem o filme ir para frente. Ao contrário, tentam esconder um roteiro fraco, previsível e pouco inventivo.
Como diretor, Fran Miller (cujo Batman repaginado em cima da obra de Bob kane nos anos 80 eu amo) é melhor criador de HQ e graphic novels.