terça-feira, 9 de fevereiro de 2010
Invictus é uma derrapada na obra do brilhante Clint Eastwood
São belíssimos e inspiradores os versos finais do poema "Invictus", escrito e 1875 pelo inglês Wiiliam Henley:
"Não importa o quão estreito seja o portão e
quão repleta de castigos seja a sentença,
eu sou o mestre do meu destino,
eu sou o capitão da minha alma".
Infelizmente, INVICTUS, o filme de Clint Eastwood, parece não ter sido contagiado em sua plenitude pela força dos versos de Henley. Sou a pessoa mais suspeita do mundo para falar de Eastwood, para mim o grande cineasta americano em atividade, ao estilo dos grande narradores que moldaram a tradição do cinema clássico americano, como John Ford, só para ficar no exemplo mais conhecido.
De cowboy dos operísticos western spaghetti de Sergio Leone ao detetitve durão Harry Calahan, Eastwood passou a digirir e construiu uma sólida obra, que nos últimos trabalhos atingia altos níveis de refinamento e expressão pessoal.
Criou filmes maravilhosos, onde explorou com delicadeza e rara sensibilidade, dentro de estruturas comunicativas simples, porém extremamente difícies de serem atingidas, o tema dos arranjos familiares moldados por circuntâncias do destino.
Sao os pais e filhos que não se acertam com seus herdeiros ou responsáveis biológicos, mas que a vida trata de dar uma segunda chance.
Esta estrutura está em Um Perfeito, Menina de Ouro, A Troca e Gran Torino, uma quadrilogia eastwoodiana sobre o poder do ser humano de se abrir para o afeto nas mais incríveis situações no mundo contemporâneo.
Aí que se se criou uma grande expectativa em torno de Invictus. O presidente Nelson Mandella acaba de assumir o poder de um país dividido por décadas de ódio racial e vê na fraquíssima seleção de rugbi da África do Sul a oportunidade de catalisar para o esporte um esboço de projeto de nação multiracial.
Morgen Freem como Mandela está exuberante, os bastidores do poder recém conquistado são interessante, Matt Damon como o capitão da equipe de rugbi é sóbrio e discreto no tom certo, a reconstituição de época é perfeita.
Até aí tudo bem, não fosse um filme de Clint Eastwood.
A partir de um certo momento, tudo se torna previsível. As longas partidas são filmadas com grande dinamismo visual, colocando o mpúblico dentro do gramado..mas é só isso. Que apelo tem o rugbi para as platéias fora dos países onde o esporte é praticado? Aliás, desculpem a ignorância, não consegui entender porque aquele monte de homens gosta tanto de se esfregar naqueles motinhos humanos.
Em Menina de Ouro, o esporte era uma via para se chegar ao âmago da boxeadora criada por Hillary Swank. Em certo ponto daquele filme, não assistíamos mais as lutas no ringue, mas acessávamos sua alma, suas angústias e esperanças desesperadas. Em Invictus, pouco se tira do rugbi, a não ser um conjunto de clichês sobre motivação que em breve serão usados como exemplos em palestras motivacionais.
O Mandela de Freeman é quase um santo de tão bondoso, gentil e sorridente. Sentimos que o diretor o mostra levemente encantado com o poder, mas seu grande projeto, o de fazer a conquista da Copa do Mundo de Rugbi o marco zero da nova nação, sofre alguma resistência aqui, outra ali. A conflituosa relaçao do líder com sua família é sugerida muito superficialmente.
Ao abraçar a esfera pública de uma figura histórica, Clint Eastwood se afastou dos temas que mais marcaram a sua obra, construidno assim um filme banal, que não se relaciona com seus filmes anteriores, a não ser que se queira enxergar na obstinação de Mandela um ponto em comum com personagens de outras fitas do diretor.
Por mim, tudo bem. Até os grandes não são grandes o tempo todo. Já estou ansioso pelo próximo filme do velhinho, que passou dos 80 e não mostra (felizmente) nenhum sinal de cansaço.
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