quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Guerra ao Terror revela a adrenalina de enfrentar a morte




Há tempos não se via um filme de guerra tão intenso e envolvente quanto este THE HURT LOCKER, que por aqui foi lançado como GUERRA AO TERROR. É um título infeliz, de pouca inspiração, como a maioria das traduções. Neste caso, a esperteza da distribuidora com o nome pode ter sido creditada à pressa em lançar nos cinemas um filme que ela mesma havia negligenciado e distribuído direto em DVD. Bastou o filme receber nove indicações ao Oscar e corraram atrás de um nome de apleo comercial. Por aí dá para se ter uma idéia da falta de visão dessa gente.

O título original refere-se a uma expressão que significa algo como causar sofrimento físico e mental, mais coerente com os efeitos que o filme da diretora Kathryn Bigelow causa sobre o público. Com precisão cirúrgica, ela conduz o filme como uma experiência terrivelmente angustiante, na qual seus personagens brincam de perto com a morte, criando momentos tão tensos que a gente perde até a vontade de respirar.

O filme acompanha o cotidiano de um esquadrão antibombas na Bagdá ocupada pelas forças norte-americanas.

Os grandes filmes de guerra não tratam do conflito bélico em si. Apocalipse Now, de Coppola, é o retrato da insanidade humana em meio a uma guerra. Kubrick sabia disso. Seu Glória Feita de Sangue é um tratado sobre a vaidade, os jogos de poder e as injustiças ampliadas com lente de aumento no conflito. Outra obra fundamental do cinestas, Nascido para Matar é sobre a brutalização humana, necessária à vitória no campo de batalha. Kubrick leu nas camadas internas de Samuel Fuller, que com seu Agonia e Glória mostrou a pequenez humana diante das adversidades. Em Além da Linha Vermelha, Terrence Malick usa a guerra para discutir a complexa relação entre o homem e natureza.

THE HURT LOCKER filia-se a toda esta linhagem nobre, o que já o eleva ao posto de ums dos grandes filems do gênero em todos os tempos. Ele trata da necessidade masculina de flertar com o perigo. Este suprimento vital de adrenalina é o que busca o capitão William James em suas missões suicidas. Casado, pai de uma menina recém-bascida, ele precisa se expor à morte a todo momento para se sentir vivo. O que outros soldados temem, ele faz questão de enfrentar, levando a cineasta a perguntar se o conflito, a batalha, a disputa não são necessdiades masculinas artificialmente sufocadas por tudo aquilo que chamamos de civilização.

Para registrar estas missões suicidas e a delicada operação de desarme das bombas, a cinesta opta por uma linguagem de documentário, com muita câmera na mão e uma edição televisa, rápida e dinâmica.

Há uma cena que sintetiza bem o espírito do filme: o capitão James diante de uma prateleira com dezenas de opções de sucrilhos em um supermercado. Sua expressão é frégil, distante. Ele está totalmente perdido diante de tantas marcas, ele não se encaixa na sociedade de consumo, ele não se acomoda no papel de pai e provedor.

A guerra, apreende-se da cena, alimenta uma energia masculina tão essencial à sobrevivência quanto à agua, é só por isso que elas continuam e continuarão existindo. Só uma mulher conseguiria espiar com tamanha sensibilidade a alma masculina.

THE HURT LOCKER teve o mesmo número de indicações ao Oscar de Avatar. Curiosamente, a diretora Bigelow foi casada com James Cameron.

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