quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010
Onde vivem os monstros é uma fantasia original e poética sobre a infância
ONDE VIVEM OS MONSTROS é um belíssimo conto sobre o poder da imaginação. Ao contrário do que pode sugerir, não é necessariamente um filme para crianças, mas sim um filme sobre o universo infantil e como esta fase da vida pode ser terrivelmente marcada pela solidão e pela incompreensão.
O título original, Onde estão as coisas selvagens, é mais claro que a tradução nacional. Max, o menino peralta, como todos os meninos saudáveis, não consegue se comunicar com a mãe preocupada com o trabalho e com o namorado novo nem com a irmã e seu amigos adolescentes e grosseiros. Sente-se sozinho e sua solidão alimenta uma espécie de pacto pessoal com o seu lado mais "selvagem", o que expressa na ausência de limites em casa como forma de obter um pouco de atenção da família.
Mandado para o quarto sem jantar (quem de nós já nao passou por isso?) Max empreende uma jornada (visualmente bela, aliás) de barco a um mundo distante, habitado por criaturas estranhas, grandes e peludas.
Lá se torna o rei da bagunça, das brincadeiras, da folia, imperando numa espécie de paraíso dos sonhos de qualquer criança.
É ali que Max terá seu grande aprendizado, a percepção de que as relações humanas só são possíveis dentro de certos limites de respeito ao outro. Aprenderá isso de forma dura, ao ofender e estimular brincadeiras perigosas e dolorosas entre seus novos amigos.
Os monstros do reino de Max (atores usando fantasias de pelos, penas e outros adereços sujos, nada de efeitos visuais) são figuras arquetípicas que todos encontramos em nossa infância: o líder valentão inseguro, o frágil quietão, a tristonha, o grandalhão de quem todos tem medo mas é afetuoso.
E que momentos de grande força o diretor Spike Jonze cria neste mundinho! Briguinhas, bate-bocas, uma soneca com a turma toda abraçada em uma pilha, a construção de um forte, guerra de barro.
Não há adultos chatos para mandar, não há escola nem obrigações. Tudo é permitido, nada é proibido entre árvores frondosas, paisagens desertas e cavernas feitas à mão.
O mundinho onde Max é rei é a materialização de nossos sonhos de infância. É a representação em imagens de nossas fantasias mais profundas e também de nossos medos e duros aprendizados rumo à vida adulta.
É um mundinho que de tempos em tempos só o cinema, cada dia mais careta e saturado de explosões e ação vazia, é capaz de criar.
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