quarta-feira, 25 de junho de 2008

Aramis, Splendor e o cinema

Um dos grandes nomes da crítica cultural brasileira, o jornalista Aramis Millarch faleceu em 1992. Em 30 anos de trabalho na imprensa paranaense, ele produziu nada menos que 50 mil artigos. Parte deste precioso acervo, um registro da memória da produção cultural em várias áreas, como música, teatro, literatura, artes plásticas e sobretudo cinema, está sendo digitalizada e reunida no projeto TABLOIDE DIGITAL.

É uma oportunidade muito bacana de se conhecer a memória da atividade cultural no Paraná.

Para homenagear o Aramis, abaixo reproduzo o trecho de um texto sobre o filme Splendor, de Ettore Scolla. O filme é de 1998 e o texto é de 1990.

O filme é, ao lado de Cinema Paradiso, uma declaração de amor ao cinema e ao tempo em que existiam cinemas.

"Se o cinema é a indústria dos sonhos iluminados projetados na tela branca, "Splendor" é mais do que um filme: é o próprio sonho.

Em torno deste filme não deveria haver críticas, ou releases: ou no máximo um poema tão profundo quanto aquele que Carlos Drummond de Andrade dedicou a Carlitos.

"Splendor" é magia do início ao fim. Um filme para quem ama o cinema, sua simbologia, seu folclore.

Em tudo a simplicidade: a história de um cinema - o Splendor, de uma pequena cidade da Itália, inaugurado nos anos 30, em plena ascensão do fascismo. Jordan (Marcelo Mastroianni), seu proprietário, filho de um caixeiro-viajante das imagens que, no início do século, levou a usina dos sonhos em projeções de cidade em cidade."
texto completo

quinta-feira, 19 de junho de 2008

Cinema brasileiro em alta,mas público segue 'escondido'

O cinema brasileiro virou a vedete do país no exterior. Arranca elogios e prêmios nos festivais europeus, exporta diretores para grandes estúdios internacionais e promete uma das melhores safras de produção para este ano.


Encontrar o público, no entanto, segue sendo um de seus maiores desafios.

Em maio, a boa exposição do cinema nacional teve seu auge, no Festival de Cinema de Cannes, quando dois brasileiros participaram da competição oficial. "Ensaio sobre a Cegueira", de Fernando Meirelles, abriu o evento, e "Linha de Passe", de Walter Salles e Daniela Thomas, ganhou prêmio de melhor atriz.

Apesar de vistos como filmes brasileiros, ambos são co-produções com outros países, como Canadá e Japão, um movimento alternativo aos incentivos fiscais do Brasil.

No último Festival de Berlim, um dos principais ao lado de Cannes e Veneza, o Brasil saiu vencedor do Urso de Ouro com "Tropa de Elite", de José Padilha. Salles, Meirelles e Padilha, aliás, têm projetos com grandes estúdios norte-americanos.

O interesse estrangeiro pelo cinema brasileiro e latino-americano foi percebido por quem viajou até Cannes.

"Nas inúmeras entrevistas com jornalistas internacionais pude perceber que este ano o cinema latino-americano foi considerado o foco do festival. Isso é algo que não acontece há pelo menos 20 anos", disse Daniela Thomas.

Tudo parece brilhar no setor, que promete ainda uma das melhores safras de filmes nacionais para 2008, segundo distribuidores e especialistas.

Além dos filmes de Thomas e Meirelles, previstos para estrear no segundo semestre, há também os novos trabalhos de Bruno Barreto, "Última Parada 174", sobre um sobrevivente de uma chacina no Rio de Janeiro, e de Walter Lima Jr., "Os Desafinados", com o astro Rodrigo Santoro no elenco.

CADÊ O PÚBLICO?

Tal otimismo, no entanto, acaba ofuscado quando o assunto é bilheteria. Afinal, com tantos filmes sendo produzidos no Brasil, era de se esperar um público em ritmo de crescimento.

Enquanto a produção saltou de três filmes em 1992 para 29 em 2003 e cerca de 80 em 2007, o público de tais filmes encolheu de 22 milhões de espectadores em 2003 para 10,3 milhões no ano passado, patamar que mantém desde 2005.

Para comparação, os filmes estrangeiros no Brasil tiveram 80 milhões de espectadores em 2007.

O diretor veterano Carlos Reichenbach diz que a dificuldade está em conseguir espaço nas salas de cinema devido à concorrência com estrangeiros e o preço dos ingressos.

"Nunca, em 40 e poucos anos de cinema, tivemos uma condição tão precária de exibição", disse Reichenbach, que lançou este ano "Falsa Loura". O filme de baixo-médio orçamento custou 3 milhões de reais, captados por meio de leis de incentivo, mas estreou em apenas nove salas de cinema.

Para um dos diretores da Agência Nacional de Cinema (Ancine), Sérgio Sá Leilão, o cinema brasileiro vive "uma encruzilhada", com uma crise de superprodução.

"Nós temos uma ênfase na criação desvinculada do mercado, gerando grande número de produtos pouco competitivos", disse Sérgio.

O aumento na produção vem do investimento público dos últimos 15 anos. Segundo a Ancine, está prevista para a produção nacional este ano 210 milhões de reais através do sistema de incentivo. Ano passado, foram 137 milhões.

"É muito dinheiro, tem que ver onde está o erro", acredita Jorge Peregrino, vice-presidente da Paramount na América Latina e presidente do Sindicato de Distribuidores do Rio de Janeiro.

"Por que se o dinheiro vai aumentando, aumentando e a participação vai caindo? Tem alguma coisa errada."

PAÍS GRANDE, MERCADO PEQUENO

De fato, a Ancine trabalha para fazer o cinema andar com as próprias pernas. O órgão lançará um novo fundo que irá funcionar através de créditos e investimentos, e não com dinheiro a fundo perdido, característica das leis atuais.

O mercado brasileiro está entre os três maiores da América Latina, ao lado de México e Argentina, mas ainda é considerado pequeno para o tamanho de sua população. São 2.200 salas de cinema no total, ou uma sala para cada 90 mil habitantes.

Apesar das críticas, Peregrino acha que o cinema nacional vai ajudar a melhorar a bilheteria geral, que caiu de 91,2 milhões de espectadores em 2006 para 88,5 milhões em 2007.

Segundo ele, há três ou quatro filmes nacionais este ano com potencial para 1 ou 2 milhões de espectadores. "Essa diferença é importante porque quando o cinema brasileiro se comporta bem, o mercado como um todo sobe, é uma coisa histórica."

Em 2007, apenas dois filmes brasileiros romperam a barreira dos 2 milhões de espectadores, "A Grande Família -- O Filme" e "Tropa de Elite". Os demais não atingiram nem 1 milhão.

FERNANDA EZABELLA - REUTERS

domingo, 15 de junho de 2008

TV a cabo de graça no PC?

Depois do Napster e eMule, programas que revolucionaram o mercado fonográfico com o compartilhamento de músicas em formato mp3, e do Skype, que permite ligações internacionais de graça, chegou a vez de o software MegaCubo oferecer o conteúdo dos canais de televisão por assinatura gratuitamente via rede mundial de computadores.

Utilizando a a tecnologia “streaming” (transmissão contínua de conteúdo), o programa oferece um catálogo dos canais disponíveis. Após instalá-lo, o usuário simplesmente seleciona aquele que deseja assistir e pronto: faz do seu computador uma estação de televisão por assinatura.

Mas o que parece apenas mais um modismo na internet pode dar dor de cabeça ao mercado de tevê por assinatura – segmento que reúne 5,3 milhões de usuários no Brasil e movimentou R$ 6,7 bilhões em 2007, segundo dados da Associação Brasileira de Tevê por Assinatura (ABTA).

Na última semana, o MegaCubo figurou na primeira colocação do ranking dos programas mais baixados no superdownloads.com.br, site líder no segmento de downloads e softwares no Brasil. No período, o programa foi baixado 640 mil vezes. Considerando as três semanas em que está disponível neste site, já somam-se quase 1 milhão de downloads.

E isso pode representar apenas a ponta do iceberg, já que o número não contabiliza os usuários que baixaram o programa diretamente no site oficial do MegaCubo (megacubo.net). Mesmo sem estes dados, pode-se dizer que, em uma semana, o MegaCubo obteve 77% do crescimento médio anual de assinantes do setor de televisão por assinatura nos últimos cinco anos.

Mais na Gazeta on-line de hoje (15.06.08)


O Fim dos tempos de Shyamalan peca por sér óbvio demais


Sou suspeito para falar de M. Night Shyamalan. Seu trabalhos pós-Sexto Sentido revelam qualidades e sutilezas que acabaram não sendo captadas pela maioria do público e da crítica. A cada filme, esperavam que ele apresentasse um festival de sustos e um fim mirabolante. É como se o sucesso de O Sexto Sentido tivesse depositado uma maldição sobre os ombros do homem. E a cada filme, ele era mais malhado ainda.

Em Corpo Fechado, havia uma ironia no subtexto da história. E se entre nós houvesse um herói de verdade? Que não fosse criação só de HQs e do cinema? Sinais revelou a segurança do diretor ao lidar com ameaças que não são explicitadas como o público quer. A Vila é uma crítica ao estado de caos e violência que anda tomando conta da vida nos grandes centros.

E A Dama na Água? Este então foi o filme mais apedrejado do diretor. Parte da crítica esqueceu de ler nas entrelinhas do filme uma espécie de desconstrução do aparato imaginário que sustenta o próprio ato de contar histórias, sejam elas contas de fadas fantásticos ou filmes.

Toda esta enrolação é para chegar ao mais recete trabalho do diretor. The Happening, no Brasil, Fim dos Tempos.

A assinatura Shyamalan está ali, logo no começo. Talvez buscando-se redimir dos fiascos de bilheteria anteriores, talvez pressionado pelo estúdio ou sei lá o que, em menos de cinco minutos são apresentados os elementos que vão conduzir o filme.

Inexplicavelmente, pessoas começam a falar de forma estranha. Páram de caminhar em pleno Central Park. Algumas andam para trás. E mais inexplicavelmente ainda se matam.

Esta pressa em pedir desculpa ao público tem um preço alto mais adiante. O que captura a atenção no começo é desembrulhado depois de forma enrolada, travada, numa alternância de explicações científicas com dramas familiares de separação e a previsível luta pela sobrevivência.

É como se o diretor pilotasse um avião com o freio de mão puxado. Falta um pouco de ousadia, de criatividade.

O roteiro amarra um trecho didático, que atribui a um toxina liberada pelas plantas a onda de suicídios, à fuga empreendida pelo casal formado pelo professor Elliot (Mark Wahlberg) e Alma (Zooey Deschannel). Esta última tão insossa quanto sopa fria de chuchu. Ela é tão ruim que toda vez que ela aparece em cena o filme dá uma volta para trás.

Esta fórmula de manual é tão fechada que tira um pouco do suspense em torno da própria situação, do pânico instaurado entre a população, que imagina se tratar de um ataque terrorista.

O próprio final em aberto confirma a intenção do autor de lidar com medos reais ou imaginários, sem necessariamente ter que apelar para mosntros gerados por efeitos especiais. Neste ponto, ele faz uma leitura muito pessoal dos clichês de filmes de suspense, deixando para a imaginação do público a tarefa de sentir medo de algo que não rosto.

O problema é que o público parece não ter mais muita paciência para esta tipo de ousadia.

Supense ecológico? Filme-catástrofe com alerta ambiental? Drama de sobrevivência com ameaça invisível? Difícil encaixar este " acontecimento" em algum gênero.

sexta-feira, 13 de junho de 2008

Estudos neurocinematográficos

Neurocientistas da New York University comprovaram em um estudo recém-divulgado que certos filmes exercem enorme controle sobre a atividade cerebral e que seu impacto sobre os neurônios depende do conteúdo, da edição do estilo de direção. De certa forma, todos já sabíamos disso. Faltava a comprovação científica.

Grosso modo, o estudo funcionou assim, de acordo com matéria do site ScienceDaily: os cientistas fizeram ressonâncias magnéticas nos cérebros de um grupo de pessoas ao longo da exibição dos filmes e depois compararam os resultados para ver como eles estimularam as regiões do neocortex (responsável pela percepção e cognição). Foram usados quatro produtos audiovisuais no estudo: 30 minutos do faroeste “Três Homens em Conflito”, de Sergio Leone, um episódio da série “Bang! You’re Dead”, de Alfred Hitchcock, um episódio de “Curb Your Enthusiasm”, de Larry David, e uma tomada de 10 minutos, sem edição, de um show em Nova York.

Aqui vão os resultados: o episódio de Hitchcock provocou respostas similares de todos os pesquisados em mais de 65% do neocortex, indicando um alto nível de controle do cérebro dos espectadores; “Três Homens em Conflito” chegou a 45%; “Curb Your Enthusiasm” ficou em 18% e o clipe do show, 5%.

“O fato de Hitchcock ter sido capaz de orquestrar respostas de tantas regiões diferentes do cérebro, ligando e desligando-as no mesmo momento em todos os espectadores, pode servir como prova neurocientífica de sua famosa habilidade de manipular a mente da platéia. Hitchcock gostava de dizer a seus entrevistadores que, para ele, a criação é baseada em uma ciência exata das reações do público”, escreveram os pesquisadores.

Segundo eles, a pesquisa pode abrir caminho para um novo campo de conhecimento, que poderia ser batizado de “estudos neurocinematográficos” e ser usado por teóricos do cinema. Mas não duvido nada que a indústria cinematográfica se interesse pela pesquisa para controlar de vez a mente dos pobres espectadores.

Blog do Ricardo Calil

quarta-feira, 11 de junho de 2008

Conteúdo - Curso CINEMA, HISTÓRIA, ARTE e ENTRETENIMENTO


PIONEIROS
Thomas Edison
Irmaõs Lumièrè
Meliés

NASCIMENTO DA LINGUAGEM
Griffith
O Nascimento de uma Nação
Intolerância

EXPRESSIONISMO ALEMÃO
O Gabinete do Dr. Caligari
Nosferatu

CONSTRUTIVISMO SOVIÉTICO
Pudovkin
A Mãe
Eisensten
Greve
Encouraçado Potemkim
Outubro

SURREALISMO
Bunuel
O Cão Andaluz

IMPRESSIONISMO
Paris que dorme
Napoleón

A REVOLUÇÃO DO SOM
The Jazz Singer
Cantando na Chuva
A Múmia
Inimigo Público

A ERA DE OURO DO CINEMA AMERICANO
Assim Estava Escrito
E o Vento Levou
O Mágico de Oz

CINEMA CLÁSSICO
Casablanca
As Pontes de Madison
Os Imperdoáveis

NEO-REALISMO
Ossessione
Roma Cidade Aberta
Ladrões de Bicicleta
Umberto D
Arroz Amargo

NOUVELLE VAGUE
Os Sonhadores
Acossado
Viver a Vida
Os Incompreendidos
Jules e Jim
Farenheint 451
Hiroshima meu amor
O Ano Passado em Marienbad

ORSON WELLES
Cidadão Kane
It´s All True
A Marca da Maldade
F for Fake

CINEMA MODERNO
L´Aventura
Blow Up
Persona
Gritos e Sussurros

CINEMA BRASILEIRO
Origens e pioneiros
Humberto Mauro
Chanchadas
Rio 40 Graus
Cinema Novo
Vidas Secas
Deus e o Diabo na Terra do Sol
Outras Vertentes
O Pagador de Promessas
Lance Maior
Dona Flor e seus Dois Maridos
Pornochanchada
Anos 70
By By Brasil
Cinema Contemporâneo
Carlota Joaquina
O Invasor
Cinema, Aspirinas e Urubus

ESTÉTICA DO FILME
Roteiro
Crespúsculo dos Deuses
Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças

Fotografia, Iluminação, Cor
Apocalypse Now
Cinzas no Paraíso
Moça com Brinco de Pérola

Trilha Sonora e som
Amor à Flor da Pele
Era uma vez no Oeste
Laranja Mecânica
Psicose

Montagem
Os Pássaros
O Jogador
2001
Requiem para um sonho

Oficina Inteligência do Ator com Fernando Klug no Festival de Inverno de Antonina

Inteligência de Ator
Uma abordagem prática da comunicação cênica, a partir da interpretação de textos cômicos e dramáticos. Desenvolver, através de exercícios de preparo e textos curtos, a verdade, a clareza e a precisão na interpretação cênica, cultivando a escolha crítica e as possibilidades criativas para construção da interpretação e da personagem.
Ministrante: Fernando Klug / PR
Ator, diretor teatral, professor de teatro e locutor. Graduado em Direção Teatral pela FAP-PR. Em 26 anos de carreira, atuou em peças e filmes, criou e dirigiu núcleos teatrais, dirigindo mais de 60 espetáculos. Ministrou cursos livres junto aos teatros Novelas Curitibanas, Cleon-Jacques, Cia do Abração e Barracão Encena, entre outros. Foi jurado do Troféu Gralha Azul e colabora com o Jornal do Estado, em Curitiba.

Número de vagas: 20
Data: de 7 a 11 de julho e 2008
Horário: das 14h00 às 18h00

Material do aluno: material para anotação; roupa confortável, estilo moleton; sapatilha (é possível fazer descalço); um lençol; uma bolinha macia (de borracha ou de tênis); água para consumo próprio.
Taxa de inscrição: R$ 35,00
A oficina abordará, como aquecimento, algumas técnicas que relacionam corpo, mente, emoção e voz. Extraídas ou influenciadas pela bioenergia, biodança, clown, giberisch, teoria grotowskiana e pela experiência pessoal do professor, poderão ser utilizadas pelos alunos após o curso.
O objetivo da oficina é despertar os alunos para:
- a percepção da natureza do Teatro e do fenômeno da interpretação, tomado aqui como "o que acontece quando alguém conduz outro alguém pelo caminho da ficção".
- a importância da dramaturgia do ator, ou seja, a parceria necessária deste com o autor.
É um curso para atores. Muito mais prático que teórico. Baseado no uso da palavra (texto escrito como ponto de partida). Não há tempo, infelizmente, para abordarmos a criação teatral via corpo, via subjetividade, nem a criação via improvisação. Os alunos escolherão alguns textos enviados, que deverão ser estudados e decorados.
Neste trabalho, conceitos como "respirar", "integrar", "verdade", fé" se integram com as idéias de "consciência", "sentir/dentro -ver/fora", "conduzir a personagem", "conduzir o espectador". Da consciência, passa-se a expressão. Consciência gera responsabilidade. Influências de Stanislavski, Brecht e Boal.
Inevitável abrir espaço para a descoberta pessoal (espaço interno). Afinal, saber como somos é fundamento constante. Mas pelo ator já ter, pela natureza de sua procura, boa dose de egocentrismo, a oficina enfocará exercícios de investigação do outro (do autor, do outro ator, do personagem... do espectador). Afinal, do ponto de vista do público, é sempre o outro (o personagem), e não nós, os atores, quem mais interessa.
Interpretar pode ser visto como construir ficção para apontar para a realidade. Ato de manipulação e ato de generosidade. Aqui, o ator é um criador: tem o prazer de descobrir, de testar, em lugar da obrigação de corresponder.
Consciência, entendimento e exercício constante, porém, são as raízes de todas as técnicas.
Apesar de jogos e exercicios de relacionamento e auto-conhecimento, a oficina é trabalho mais individual que coletivo. E exigirá certo grau de dedicação. Gostarei de ter, na sala, pessoas que queiram contribuir, generosamente, para o crescimento coletivo.

Escolhendo cinema como carreira

Jessica Candal Sato jamais imaginou que ao assistir um filme sobre a banda The Doors na tevê a cabo, ainda na adolescência, teria seu interesse pelo cinema despertado. Mas foi isso que aconteceu. A partir daí, tudo o que ela vivia sempre virava um “filme mental”. Outro fator decisivo e que a motivou na escolha da profissão foi uma matéria, como esta que você está lendo agora, que ela leu sobre a profissão.

“Eu sempre gostei muito de cinema e vi que isso poderia ser um trabalho”, conta Jessica, especialista em fotografia e roteiro, e que se formou em 2006 na Universidade de São Paulo (USP) no Curso Superior do Audiovisual (que até 1999 se chamava Cinema e Vídeo). No entanto, a vida do profissional de cinema exige muito trabalho e horas de dedicação, principalmente para quem faz produção de filme, com jornadas de no mínimo oito horas diárias no set de filmagem, inclusive nos fins de semana. Por outro lado, com a disseminação de equipamentos digitais, a produção de filmes teve seu custo barateado.

Na graduação, o aluno tem contato com disciplinas que oferecem todo o princípio de produção e reflexão do cinema, como a linguagem narrativa e todo o procedimento prático. “O profissional formado nesta área tem uma ampla gama de atuação, podendo trabalhar em todos os processos de comunicação audiovisual que abrange a crítica cinematográfica – para veículo de comunicação –, roteiro, programação de festivais e de canais de tevê, publicidade, televisão, rádio, produção, além do ensino na universidade e em cursos técnicos”, diz Eduardo Baggio, chefe do Departamento de Comunicação, responsável pelo Curso de Cinema e Vídeo da Faculdade de Artes do Paraná (FAP).

Uma realidade do mercado de trabalho é que muitos profissionais atuam como free-lancers. Segundo Jessica, é o mercado publicitário que oferece estabilidade na carreira. “Boa parte dos profissionais vai para a área publicitária para se manter e estar inserido no meio social. Já a produção de filmes sempre depende de editais. Aqui no Brasil não há uma indústria cinematográfica como existe nos Estados Unidos. Apenas alguns trabalhos dão retorno comercial. Cidade de Deus e Tropa de Elite, no meu ver, talvez sejam exemplos de filmes bem sucedidos”, diz Jessica, que atualmente dá aulas de linguagem audiovisual.

Durante o período da faculdade, Jessica teve a oportunidade de trabalhar como assistente de direção de arte em dois longas, inclusive do diretor paranaense Fernando Severo. No entanto, enfatiza o interesse que cada estudante deve ter pelo curso. “O pessoal que faz faculdade tem de aproveitar. Em cinema, a parte prática depende de cada um. É importante cada profissional saber aonde quer chegar. Eu estou num caminho interessante. Quero sempre trabalhar aliando produção e reflexão, e a educação me possibilita isso. Pretendo ainda fazer um longa-metragem, creio que esse é o sonho de boa parte dos profissionais”, afirma Jessica. Ela está produzindo o documentário Espelho de Ana, que retrata as condições da mulher na atualidade.

A profissão ainda não tem uma jornada de trabalho definida, nem sindicatos da classe que regulamentem o piso salarial. Atualmente existem apenas sindicatos que regulamentam a carga horária de trabalho dos técnicos que atuam na área. “Não é uma profissão como as tradicionais, que têm seus sindicatos, conselhos. A vantagem é poder fazer um trabalho que tem um pouco da sua personalidade”, completa Jessica.

Perfil

Faculdades

Somente a Faculdade de Artes do Paraná (FAP) oferece o curso de Cinema e Vídeo.

Remuneração Não existe piso salarial para os profissionais formados em Cinema. A remuneração varia de acordo com a função exercida. Um assistente pode receber em média um salário mínimo, enquanto um diretor de fotografia pode ser remunerado com R$ 3 mil.

Falso ou verdadeiro?

Todos os profissionais trabalham em grandes produções

Falso.

Nem todos os graduados em Cinema trabalham com produção de filmes para a telona. O profissional pode atuar como crítico, professor, com programação de festivais e de canais de televisão e produção publicitária.

São raros os empregos com carteira assinada

Verdadeiro.

É muito comum o profissional que atua com produção, principalmente de cinema, firmar contratos temporários, por projeto.

(Vestibular - Gazeta do Povo - Sandra Volf - 09/06/2008)


Quanto ganha quem trabalha em audiovisual?

Muita gente tem curiosidade para saber a remuneração das diversas atividades do audiovisual (produção cinematográfica, publicidade, etc).
No site do sindicine tem uma tabela com valores de referência para várias funções.

Olho Vivo seleciona estagiária

O Projeto Olho Vivo está selecionando uma estagiária.

Perfil:
Estagiária de administração cursando o 2º ou 3º ano, para trabalhos administrativos
rotineiros, cinco dias na semana.
Facilidade de comunicação, discrição, bons modos, cortesia, disponibilidade e boa
vontade serão diferenciais para aprovação da candidata.
Bom nível cultural e gosto por cinema, música e teatro também serão considerados.

mais no site do Olho Vivo

terça-feira, 10 de junho de 2008

Hollywood africana é a terceira maior indústria de cinema do mundo

Apesar das dificuldades econômicas, a Nigéria tornou-se o terceiro maior pólo cinematográfico do mundo - atrás apenas de Hollywood, nos Estados Unidos e de Bollywood, na Índia - com um faturamento de US$ 250 milhões ao ano.
A conquista surpreendente do país africano, que está entre os 30 mais pobres do mundo, recebeu o nome de Nollywood, um trocadilho com a famosa Hollywood criado pelos meios de comunicação locais.
Apesar de sua precariedade - os filmes são feitos com orçamentos baixíssimos - há algo a se aprender com Nollywood. Com a grande demanda, a Nigéria foi o primeiro país a aperfeiçoar as técnicas do cinema digital. A edição, por exemplo, é feita em computadores caseiros pelos mais de 300 cineastas que atuam em Lagos, com recursos de multimídia disponíveis em programas à venda em qualquer loja de informática no mundo.
Em freqüente ascensão, Nollywood tem dado resultados positivos: o país aprendeu a criar uma verdadeira onda de celebridades emergentes, mais conhecidas do que líderes políticos. Consegue, também, produzir cerca de 1200 filmes no período, números impressionantes se compararmos esses padrões a Hollywood, por exemplo, cuja marca recorde é 400 produções anuais.
A Nigéria só aprendeu a conquistar este espaço em 1992, quando o clássico Living in Bondage, do diretor Chris Obi Rapu, foi comercializado em camelôs e acabou vendendo mais de 750 mil cópias. A partir daí, usando o VHS, muitas produtoras resolveram fazer seus próprios filmes, que começaram tímidos e amadores, mas depois foram se mostrando verdadeiras receitas de sucesso.
Esse "destaque-relâ mpago" da indústria motivou dois documentários recentes, This is Nollywood, dos diretores Franco Sacchi e Robert Caputo, e Welcome to Nollywood, do californiano Jamie Meltzer.
O primeiro acompanha os bastidores do filme nigeriano Check Point, encomendado por apenas US$ 20 mil por uma produtora local. Já Welcome to Nollywood mostra o dia-a-dia de três cineastas nigerianos, que têm que lutar contra o tempo para finalizar seus filmes com baixo orçamento.
Em entrevista ao Terra, Meltzer disse que o que mais fascina na indústria é a rapidez com que as produções são feitas. "Eu queria saber como eles conseguiam fazer filmes extremamente bem-sucedidos e fascinantes em um período de tempo tão pequeno, com poucos fundos e recursos."
Inspiração para a independência
A viagem de Meltzer ao continente africano trouxe alguns resultados positivos. Além de se deparar com um ramo completamente formado - e que cada vez mais se consolida como atividade básica -, ele também abriu espaço para que a própria Nollywood fosse vista. Como grande parte dos filmes são recusados em festivais internacionais, com seu documentário, Meltzer pôde mostrar um pouco do "fazer arte" nigeriano, levando muito desta atenção para o país.
"Eu aprendi com os diretores de Nollywood que praticamente tudo é possível, desde que você tenha coragem de fazer acontecer com o que tem em mãos. É com essas circunstâncias que eles se encontram, não existe nenhuma desculpa para não se fazer filmes", explica.
Diante dos pequenos períodos de tempo, ninguém envolvido na produção tem uma real preocupação com cenários, figurinos específicos ou locações externas. Tudo é feito, em grande parte, no improviso, o que não parece incomodar seus espectadores.
"A Nigéria, relativamente pobre, é o único país que conseguiu nos mostrar uma forma realmente moderna de cinema digital. Tudo isso soa como algo positivo e moderno em relação à África, um antídoto para o que grande parte da mídia mundial divulga, esses estereótipos, que parecem reais. A África não é um continente feito de vítimas e tragédias e não pode ser reduzida a isso", dispara Meltzer.

Produtoras da Nigéria incentivam venda de filmes por camelôs
Embora seja vilã em potencial do país, a pirataria de filmes na Nigéria é reduzida graças a uma distribuição acelerada das produtoras. Atrás dos lucros, essas empresas enviam cópias originais de seus produtos para os camelôs, que os comercializam por, no máximo, US$ 5.
Com a falta de salas de cinema no país, distribuidoras correm contra o tempo para mandar seus lançamentos aos camelôs e grandes lojistas, em uma forma de comércio livre. A pirataria, porém, toma o controle assim que cópias informais são vendidas por um preço ainda menor pelos próprios vendedores ambulantes que comercializam os filmes originais.
Combatendo este mal, algumas emissoras de TV criaram canais exclusivos para a exibição destas produções. É o caso do AMC (African Movie Channel), que exibe filmes recém-lançados ou mesmo clássicos antigos, indisponíveis nas prateleiras. O sucesso das transmissões fez com que o canal ganhasse uma filial na Europa, por meio da TV paga.
"Eles estão mais interessados em atingir uma audiência que está dentro de casa. Funciona como uma alternativa contra o domínio que Hollywood e o cinema da Índia representam em todo o mundo", cita Jamie Meltzer, documentarista americano que produziu Welcome to Nollywood, um relato direto de três diretores nigerianos.
Recepção do lado de fora
Se a pirataria é a vilã de Nollywood, aqui do lado de fora não fica diferente. No continente americano, em países como o Brasil e Estados Unidos, a distribuição dos filmes é escassa. A pouca procura que se têm deles acontece por meio da Internet ou mercados ilegais, o que dificulta que eles sejam exportados com facilidade.
Poucos cineastas brasileiros conhecem o trabalho cinematográfico que se faz na Nigéria. O número de artigos a respeito do assunto na Internet é pequeno e se perde em cópias pouco explicativas.
A temática dos longas também pode assustar a um primeiro olhar. Um dos poucos sites, mundialmente conhecido, que disponibilizam este conteúdo é o You Tube, reunindo dezenas de trailers e imagens de bastidores.
"Para quem está aqui fora, é muito surpreendente entrar em contato com esses filmes. Eles rompem todos os estereótipos e mal-entendidos que envolvem a África", explica Meltzer.
Interesse geral
Assim como as novelas no Brasil, Nollywood abre a discussão pertinente de temas atuais, que tem alguma relação com seus espectadores.
Muitos filmes falam sobre a epidemia do HIV e de temas religiosos e crenças populares, como bruxaria e magia negra. O próprio Living in Bondage é um relato confuso sobre uma história de vodu.
"Os filmes e seus assuntos mudam completamente, em resposta ao mercado - o que funciona e o que não. Isso acontece por causa da grande massa cultural que existe por ali, uma massa que faz com que Nollywood seja seu maior produtor", acrescenta.
De 2000 para cá, alguns diretores passaram a investir mais em filmes de ação, usando armas e explosivos, nada relacionado aos avanços dos efeitos computadorizados.

Maior estrela da Nigéria ganha 600 vezes menos que Angelina Jolie
Em pouco mais de dez anos de sua ascensão, Nollywood já tem uma carteira de astros muito mais conhecidos e cultuados do que seus próprios líderes políticos. A nigeriana Genevieve NNaji é uma delas. Seus padrões financeiros, porém, não chegam perto de Angelina Jolie, maior musa de Hollywood da atualidade, ganhando 600 vezes menos que a americana.
Celebridade mais cultuada da Nigéria, Genevieve passa por constantes transformações. Aos 24 anos, a atriz tem sua vida exposta diariamente pelos jornais locais e possui centenas de comunidades na Internet, além de ser assunto freqüente em fóruns de fãs.
Para se ter uma idéia, o seu nome é obrigatoriamente o primeiro lugar em praticamente todos os sites de busca que estejam relacionados a Nollywood. E não é para menos.
Genevieve Nnaji tem, no currículo, mais de 80 filmes. Sua carreira no cinema começou cedo, em 1999, mas foi em 2002 que seu rosto estampou dezenas de capas de revista, especialmente depois de estrelar o romance Women Affair, que tornou-se item obrigatório dos camelôs, no centro da cidade de Lagos.
A atriz é o típico exemplo de quem tem a vida comandada pela mídia local, mostrando que isso não é exclusividade das celebridades americanas. Com a carreira em ascensão, Genevieve sofre as conseqüências de viver em Lagos e ter que se esconder para andar nas ruas.
Em recente entrevista, ela disse que teve que mudar seu telefone seis vezes, três apenas em 2006, e que já não sai mais com sua filha pela exposição que ela pode sofrer.
Nos últimos anos, Genevieve foi alvo de críticas disparadas à sua personalidade. Jornais e sites locais afirmavam que ela não respondia à altura de seus fãs e que evitava a presença de fotógrafos e imprensa em qualquer lugar que fosse.
Crescer em um local em que era tão popular parece ter incomodado Genevieve. Ela já declarou, diversas vezes, que pretende deixar a Nigéria por um tempo, de modo que possa viver como uma pessoa comum.
O preço da alta exposição na indústria cinematográfica da Nigéria, porém, é muito longe do que as celebridades de Hollywood pagam.
Longe de receber os valores milionários de estrelas como Angelina Jolie e Nicole Kidman, com cachês que giram em torno de US$ 12 milhões, Genevieve ganha no máximo US$ 20 mil por filme. Para se ter uma idéia, seu maior salário foi quando fechou um contrato publicitário com a marca de sabonetes Lux, tornando-se protagonista da campanha.
Sua própria ascensão como atriz aconteceu por acaso. A moça não completou os estudos básicos e foi descoberta ocasionalmente por produtores da cidade de Lagos. É assim que grande parte dos atores e atrizes da região conseguem crescer na carreira. Como o salário e as condições de vida na Nigéria são baixas, segundo a ONU, a grande esperança dos jovens é mostrar seus rostos nas telas da TV.
Em Nollywood, quanto mais jovem se é, mais valor se dá ao seu trabalho. É o caso das atrizes Ebbe Bassey e Ibinabo Fiberesima, estrelas de uma série de filmes românticos e com temática mais adolescente, alvo principal dos muçulmanos que moram na região da Nigéria e alguns cristãos ortodoxos.
A atriz não mostra que se abala com esse tipo de crítica. "Se isso os incomoda tanto, eles deveriam parar de assistir. Ninguém pode dizer se estou próxima ou não de Deus. Foi ele que me deu todo esse sucesso", dispara.
Apesar de Nollywood ser o terceiro maior pólo cinematográfico, muitos artistas nigerianos sonham em fazer carreira internacional. O rapper e ator Ramsey Nouah é um caso plausível. Mais conhecido do que o presidente da Nigéria, como foi publicado anteriormente em uma matéria do The Independent, Nouah rumou para os Estados Unidos no ano passado, onde tentou uma carreira artística.
A viagem tornou-se um verdadeiro tormento para o ator, que não conseguiu papel em nenhum filme e ainda não teve quem o ajudasse na dura tarefa de levantar sua carreira musical. Enquanto isso, na Nigéria, suas convenções com o público aumentam cada vez mais, assim como sua popularidade nos filmes da indústria. O caso típico de um ramo que cresceu assustadoramente, mas não tem seu devido reconhecimento no resto do mundo.

Um filme de pancadaria para bancar outro?

O sujeito encontrou uma forma de levantar recursos para o filme seguinte: fez um filme de baixo custo, com pancadaria e sangue, envolvendo lutas dentro de uma piscina.

Quer vender no exterior e conseguir bancar o próximo projeto, que será sobre síndrome de Down.

Será que dá certo?

Mais no G1

Polo de cinema em SP - e por aqui?

Cidade paulista movimenta economia local com polo cinematográfico.

Não seria o caso de um projeto nesta linha por aqui, já que a cidade tem um curso superior de cinema e está formando gente qualificada?

leia o texto no Caderno G da Gazeta de hoje

segunda-feira, 9 de junho de 2008

O beijo roubado (?) de Wong Kar Wai



Não tinha como dar errado. Um ano após ser premiado em Cannes, chega a Curitiba Um Beijo Roubado, tradução infeliz (como a maioria) para o último longa do diretor chinês Wong Kar Wai. Digo não tinha como dar errado porque, em seu primeiro filme americano, o homem consegiu escalar Natalie Portman, Rachel Weiz, Jude Law, David Strathairn para contar uma fábula contemporânea de solidão, encontros e desecontros.
Como se não bastasse, convenceu Nora Jones a ser a protagonista, numa espécie de personagem que presencia e toca as vidas (tumultuadas e dolorosas) dos tipos humanos representados pelo elenco afinadíssimo, que reúne alguns dos melhores atores em atividade.
Um filme de Wong Kar Wai é um filme de Wong Kar Wai. O estilo do diretor é presente no cuidado com o visual, com os jogos de cores, na composição dos planos. Ele não gosta de imagem limpinha: sempre que pode posiona a câmera atrás de alguma parede, janela. Usa a transparência de vitrines para criar algo como um obstáculo visual, prefere o fofo e fora de foco como impedimentos para a comunicação plena entre seus personagens.
O que seria um drama mais ou menos batido de homens e mulheres frustrados com amor e desamor, nas mãos do diretor torna-se um jogo policromático de ritmos interiores, desencantos assumidos e buscas sem objetivos.
Nora é a personagem que costura as relações deste jogo. Ela busca algum consolo nas noites regadas a conversa e tortas de amora (daí o título original, My Blueberru Nights, o que, convenhamos, em portugues seria igualmente imbecil...Minhas Noites de Amora) no resturante de Jude Law.
Daí ela viaja para esquecer o passado, ganha uns trocados numa espelunca onde conhece um policial (David) alcoolatra, obcecado pela ex-mulher (Weiz, mais linda que nunca) . Portman, uma apostadora ousada com problemas de relacionamento familiar, fecha este círculo de gente solitária, que não consegue se entender e entender a quem ama.
Este road-movie afetivo é pontuado por uma trilha que tem, obvimante, canções da própria Nora Jones.
Só acrescentaria um porém: o personagem de David Strathairn (eta nome dificil...) poderia ser mais explorado no filme. Mas não quero contar...
Quem acompanha o chinês (Amor a Flor da Pele talvez seja o filme mais conhecido dele por aqui) já sabe que pode esperar um filme bastante pessoal, intenso e honesto. O amor , diz o diretor, não é para principiantes. Mas deve sempre ser tentado.

Cinemateca apresenta filmes digitais dias 11 e 12 de junho

Atenção: O curta OS CORDOES DE LAURA é uma realização da Mariza, nossa aluna do curso CINEMA, HISTÓRIA, ARTE e ENTRETENIMENTO, no período em que ela participou das oficinas do Olho Vivo

Cinemateca apresenta mostra de filmes digitais


A Fundação Cultural de Curitiba apresenta a Mostra de Filmes Digitais, com a exibição de oito curtas-metragens inéditos de realizadores curitibanos. As produções foram selecionadas pelo edital Filme Digital 2006/2007 e receberam recursos do Fundo Municipal da Cultura da Prefeitura de Curitiba. O público poderá conferir o resultado dos trabalhos nas duas sessões programadas para os dias 11 e 12 de junho, às 20h, na Cinemateca, com entrada franca.
Os filmes são de curta duração e estão divididos entre as categorias “iniciantes” e “não iniciantes”. Seguindo os requisitos do edital, todos tiveram como tema e ambientação a cidade de Curitiba. No dia 11 serão exibidos os filmes Um palco curitibano, de Julius Nunes, documentário sobre o Teatro Guaíra; Nós, de Fábio Allon, curta de ficção mostrando as reações de uma pessoa quando se depara com várias versões de si mesmo; Pernil com queijo verde, de Kleber Wlader e Eberson Galiotto, que traz as lembranças de uma tarde agradável na Rua das Flores; e Beijo na Boca Maldita, de Yanko del Pino, um documentário sobre Gilda, um famoso tipo popular das ruas de Curitiba, na década de 1970.
No dia 12 serão apresentados os filmes Os cordões de Laura, de Mariza Tezelli, filme de ficção sobre uma mulher que, com seu tear, vai tecendo e construindo vidas e histórias; Crônicas da vida cigana, de Sara Araújo, documentário sobre os ciganos em Curitiba; Fabulário geral de um delírio curitibano, de Juliana Sanson; e Olhares, de Andréia Kaláboa, documentário que faz um diagnóstico da cidade de Curitiba por sua própria gente.

Serviço:
Mostra de Filmes Digitais produzidos com recursos do Fundo Municipal da Cultura.
Data: dias 11 e 12 de junho, às 20h
Local: Cinemateca de Curitiba – Rua Carlos Cavalcanti, 1.174
Entrada franca

Programação:

11 de junho
UM PALCO CURITIBANO, direção de Julius Nunes.15’.
NÓS, direção de Fabio Allon, com Rodrigo Ferrarini. – Ficção. 14’
PERNIL COM QUEIJO VERDE, direção de Kleber Wlader e Eberson Galiotto, com Hélio Barbosa. – Ficção. 12’
BEIJO NA BOCA MALDITA, direção de Yanko Del Pino. 15’.

12 de junho
OS CORDÕES DE LAURA, direção de Mariza Tezelli, com Julyana Spricigo, Edineia Chagas. – Ficção.15’.
CRÔNICAS DA VIDA CIGANA, direção de Sara Araújo. 15’.
FABULÁRIO GERAL DE UM DELÍRIO CURITIBANO, direção de Juliana Sanson, com Patrícia Saravy, Andréia de Souza, Vinícius Mazzon, José Ronaldo Ribeiro, Joni Zanetti, Bárbara Horn. 15’.
OLHARES, direção de Andréia Kaláboa. – Documentário. 16’.

Mais em http://www.fccdigital.com.br/

quinta-feira, 5 de junho de 2008

Sobre os textos de filmes

Apenas uma breve explicação:
Se o tempo permitir, pretendo ir publicando pequenos textos sobre filmes em cartaz nos cinemas , na TV por assinatura ou das locadoras. O primeiro aqui é sobre Longe Dela.
Também quero disponibilizar no blog textos já publicados na versão impressa do Jornal do Estado. Já vou me justificando: prefiro ser a metamorfose ambulante. Por que? Porque posso ter escrito algo, na época, que tempos depois, com calma, maturidade ou em um momento mais inspirado, me fez mudar de idéia. Mantenho o original aqui, para ser mais honesto.
Acho que o espírito do blog é este mesmo: mais espontâneo, livre das amarras que um texto impresso ou mesmo um site pediriam.

Paradise Now

(publicado originalmente no Jornal do Estado)


“A vida é mais importante que o filme”, declarou o diretor palestino radicado na Holanda, Hany Abu-Assad, ao se conformar com a partida de seis membros europeus da sua equipe, durante as filmagens de Paradise Now, em Nablus, na Palestina, em 2004. Assustados com a explosão de um carro por um míssil do Exército Israelense próximo ao local onde rodavam uma cena, os técnicos se mandaram e deixaram o diretor da mão. Como se não bastasse, Assad teve que pedir a Yasser Arafat para que intercedesse pela libertação de um produtor do filme, seqüestrado por um grupo armado. Para piorar, teve que conviver com ameaças constantes de palestinos armados com metralhadoras e de soldados israelenses. Cada lado preocupado com a sua versão da história.

É de se admirar que o diretor não tenha desistido da empreitada, uma produção multiétnica, com gente da Holanda, Alemanha, França, Bélgica, Inglaterra, Palestina e até de Israel. As dificuldades nas filmagens e a diversidade cultural da equipe pareciam a receita perfeita para tudo dar errado. Mas não deu. Paradise Now é um olhar original e isento (qualidade rara de se encontrar em filmes que lidam com assuntos tão espinhosos) sobre o grande conflito do mundo contemporâneo, entre árabes e israelenses.

O filme de 90 minutos acompanha o que seriam as últimas 48 horas de vida de dois inseparáveis amigos de infância, Said (Kais Neshif) e Khaled (Ali Suliman). Os dois trabalham na mesma oficina mecânica e compartilham da mesma vida dura e sem perspectivas em Nablus, até que são recrutados para um grande atentado suicida em Tel Aviv. O convite para tornarem homens-bomba é aceito com naturalidade e certa resignação, o que pode induzir o espectador a se revoltar e imaginar que todos os 3 milhões de palestinos estão prontos a mandar os israelenses pelos ares, a qualquer momento. É apenas uma falsa impressão, que o ótimo roteiro do filme vai, se não argumentar a favor, pelo menos contextualizar, recorrendo a causas sociais e políticas.

O problema é que o atentado não sai como o planejado. Os amigos se separam. Aí e que entra Suha (Lubna Azabal). Educada na Europa, ela volta a Nablos e tem um certo interesso amoroso por Said. Culta, divertida e moderna, Suha representa o contraponto feminino à sede de vingança semeada por líderes locais, que se aproveitam da pobreza da população para perpetuar uma guerra insana e sem fim. Ela argumenta, apela à razão, sugere outras formas de resistência que não os atentados. É da mulher, sempre retratada como oprimida no mundo islâmico, que vem o discurso pela paz, como resposta às bombas e metralhadoras dos homens. Talvez por essa coragem é que elas não tenham voz.

As implicações ideológicas, que poderiam tornar o filme um tedioso tratado pró-Palestina e anti-Israel, foram distribuídos com inteligência nos diálogos, que soam naturais. Em uma seqüência, Suha pergunta a Said que gênero de filme seria sua vida. “Aventura, ficção científica, documentário?”. Ele responde lembrando que não há cinemas em Nablos, e que se sua vida fosse um filme, seria do gênero maçante.

Sem apelar para o panfletarismo, o filme mostra terroristas de carne e osso, que agem como pessoas comuns. Uma cena chocante é dos preparativos dos jovens para o atentado. Bombas são fixadas em seu corpo. Eles oram, fazem uma farta refeição e ainda escolhem o modelo de cartaz no qual serão retratados como mártires. O filme dá voz e rosto a uma parte de problemas que o Ocidente só conhece pela imprensa. É importante lembrar que o que a mídia chama de terrorista o filme trata como resistente. Não há semântica sem ideologia.

Inevitável será a comparação de Paradise Now com Munique, de Spielberg. Amir Labaki, citando um crítico americano, resumiu com perfeição este ponto. “Os dois filmes juntos podem dizer mais sobre o ciclo de violência no Oriente Médio do que cada um deles separadamente". Se Paradise Now levar o Oscar de Filme Estrangeiro – já levou o Globo de Ouro e foi alvo de muitos protestos – será o primeiro filme de um país que não existe. Pois Said e Khaled moram no que chamam de « territórios ocupados ».


Longe Dela - drama sobre Alzheimer

Longe Dela (Away from her) é um drama que consegue transmitir, com rara sensibilidade, a sensação de vazio que toma conta de uma pessoa com mal de Alzheimer e de quem está próximo dela.

O filme acompanha o lento e doloroso processo no qual a doença vai se instaurando na vida do casal formado por Fiona (Julie Christie) e Grant. (Gordon Pinsent). O filme trata do como a doença torna-se um vazio que afeta Fiona e o casamento de 44 anos com seu marido.

A própria estrutura do filme, costurada com avanços e recuos, pulando de um passado mais distante para um mais recente, de certa forma é uma metáfora da doença, do vazio. É como se arquivos interios fossem delatados da mente de Fiona, deixando apenas brancos - destacos pelos planos da neve em torno do chalé onde o casal se refugia antes dela ser internada.

A opção da jovem roteirista e diretora estreante Sarah Polley (atriz em Minha Vida sem Mim e A Vida Secreta das Palavras) foi de contar um drama sem necessariamente ser dramática. Seco e direto em alguns momentos, o filme confere aos silêncios e aos olhares dos atores a tarefa de expressar um desespero resignado perante uma vida que vai sumindo aos poucos.

Marido e mulher precisam encarar de frente que os pedaços das memórias de suas vidas vão se perdendo. Lágrimas, neste caso, não seriam suficientes. Resta o amor resignado e honesto, livre, depurado de qualquer pecado.

Em meio a uma enxurrada de títulos-pipoca, direcionados para o público juvenil, com mil efeitos e luzes e bichos criados em computador, é corajosa esta aposta em um filme com dois atores já na casa dos 60, 70. É um cinema que fala ao coração, com as palavras bem dosadas, interpretações impecáveis e uma direção honesta e segura. Vale ver.