segunda-feira, 9 de junho de 2008

O beijo roubado (?) de Wong Kar Wai



Não tinha como dar errado. Um ano após ser premiado em Cannes, chega a Curitiba Um Beijo Roubado, tradução infeliz (como a maioria) para o último longa do diretor chinês Wong Kar Wai. Digo não tinha como dar errado porque, em seu primeiro filme americano, o homem consegiu escalar Natalie Portman, Rachel Weiz, Jude Law, David Strathairn para contar uma fábula contemporânea de solidão, encontros e desecontros.
Como se não bastasse, convenceu Nora Jones a ser a protagonista, numa espécie de personagem que presencia e toca as vidas (tumultuadas e dolorosas) dos tipos humanos representados pelo elenco afinadíssimo, que reúne alguns dos melhores atores em atividade.
Um filme de Wong Kar Wai é um filme de Wong Kar Wai. O estilo do diretor é presente no cuidado com o visual, com os jogos de cores, na composição dos planos. Ele não gosta de imagem limpinha: sempre que pode posiona a câmera atrás de alguma parede, janela. Usa a transparência de vitrines para criar algo como um obstáculo visual, prefere o fofo e fora de foco como impedimentos para a comunicação plena entre seus personagens.
O que seria um drama mais ou menos batido de homens e mulheres frustrados com amor e desamor, nas mãos do diretor torna-se um jogo policromático de ritmos interiores, desencantos assumidos e buscas sem objetivos.
Nora é a personagem que costura as relações deste jogo. Ela busca algum consolo nas noites regadas a conversa e tortas de amora (daí o título original, My Blueberru Nights, o que, convenhamos, em portugues seria igualmente imbecil...Minhas Noites de Amora) no resturante de Jude Law.
Daí ela viaja para esquecer o passado, ganha uns trocados numa espelunca onde conhece um policial (David) alcoolatra, obcecado pela ex-mulher (Weiz, mais linda que nunca) . Portman, uma apostadora ousada com problemas de relacionamento familiar, fecha este círculo de gente solitária, que não consegue se entender e entender a quem ama.
Este road-movie afetivo é pontuado por uma trilha que tem, obvimante, canções da própria Nora Jones.
Só acrescentaria um porém: o personagem de David Strathairn (eta nome dificil...) poderia ser mais explorado no filme. Mas não quero contar...
Quem acompanha o chinês (Amor a Flor da Pele talvez seja o filme mais conhecido dele por aqui) já sabe que pode esperar um filme bastante pessoal, intenso e honesto. O amor , diz o diretor, não é para principiantes. Mas deve sempre ser tentado.

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