terça-feira, 9 de março de 2010

As estudantes de cinema Rafaela e Marcela e os caminhos do cinema

Rafaela Sonda e Marcela Montagutti são duas jovens estudantes de cinema em Curitiba. Como jovens, são apaixonadas por suas convicções, que defendem com entusiasmo e argumentos inflamados, como todo jovem deveria ser. Como estudantes, preocupam-se com o efeito Avatar sobre o futuro do cinema.
Quase fui apedrejado por ambas em uma discussão das mais acaloradas sobre o filme de Camaron, o oscar para Guerra ao terror e o futuro das salas de cinema. Argumentam elas, sabiamente, que o futuro do cinema não pode se concentrar em produções de meio bilhão de dólares, que monopolizam toda o circuito exibidor e toda a mídia. Seria desanimador, dizem, para quem almeja fazer do cinema um veículo de expressão mais pessoal e artística.
Em seu entusiasmo, estão corretíssimas. Pela minha defesa da premiação para a experiência que Avatar proporciona tanto para o espectador quanto para a recuperação do circuito, quase fui acusado de agente do imperialismo cultural norte-americano. Só faltou falarem que estou recebendo algum trocado do James Cameron (nem ingresso para ver o filme ele me deu!)
Retomando posts anteriores sobre Avatar, esclareço que o filme tem sim, e isso é inegável, um papel importante para discutir tecnologia e a exibição. Primeiro, é inegável seu apelo para levar as pessoas aos cinema - com todos os problemas do filme. Segundo, não se pode desprezar um evento que promove o encontro entre uma parcela do público que não pisava em um cinema ha décadas e um filme.
No fundo, admito, sou um saudosista, talvez deslocado no tempo.
Sou a favor da sala de cinema lotada (mas com isso não defendo as redes estrangeiras, míopes e mercantilistas ao extremo! O problema é que só elas detem salas em shoppings...fazer o que?)
Meu entusiasmo me faz recordar das tardes de sábado no Condor, Lido 1 e 2, Plaza, São Joao e Vitória. Naquelees tempos sem internet, a gente costumava ligar para um serviço da antiga Telepar para saber os filmes e horários. Se programava com o horário dos ônibus, se arrumava e enfrentava filas. Era comum sair de um cinema e ir em outro, sempre tomando cuidado para não perder o último ônibus. Cinema, como no slogan da rede Severiano Ribeiro, era a grande diversão. As ruas eram tranquilas, não havia violência e a sala de cinema era parte da nossa experiência social e cultural.
Eis aí meu entusiasmo pelo tal filme-evento dos seres azuis e rabudos. Começa e acaba aí.
Para mim, o cinema foi e ainda é uma forma de me compreender como ser humano, de entender meu papel no mundo e na existência. Alguns filmes, assim como alguns livros, peças, músicas e telas, tem um poder mágico de ajudar a nos definir. Foi em filmes de Kieslowski, Fellini, Ford, Ozu, Antonioni, Kurosawa que eu encontrei algumas pequenas e fugazes pistas que me iluminaram a alma. Mas também foi em filmes do cinemão pipoca que eu fui transportado para outros mundos.
O cinema, como lembra o crítico Luiz Carlos Merten, cujo trabalho admiro por ter o espírito sempre aberto para estas questões, tem muitos caminhos. Avatar não encerra de forma alguma um destes caminhos, mas aponta alternativas para resgatar o interesse - nostálgico, admito - pela sala cheia, oferecendo uma experiência impossível de ser obtida em casa. Pronto.
Que Rafaela, Marcela e outros estudantes de cinema, dentro e fora das faculdades, criem filmes tão apaixonantes quanto o tamanho de suas convicções. Seguindo por aí, o cinema, seja o cinemão, seja o cinema autoral, vai continuar iluminando o espírito humano.

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