domingo, 28 de junho de 2009

Jules Dassin e Telecine - brilhante e pouco visto




O Telecine Cult (que um dia já foi Classic e era, convenhamos, bem melhor que hoje) exibiu quatro filmes da fase européia do diretor Jules Dassin, mais conhecido por Cidade Nua, do final dos anos 40.

Ex-assistente de Hitchcok, Dassin era filiado ao Partido Comunista Americano mas se afastou dos camaradas depois das revelações dos crimes do stalinismo. De tanto encherem seu saco na caça às bruxas macartista, acabou saindo dos Estados Unidos.

São de seu exílio europeu os filmes exibidos em junho. Aquele que Deve Morrer é adaptado de Kazantizakis (autor do polêmico livro levado as telas por Scorsese, A Última Tentação de Cristo. Quando o vi no finado Cine Itália, ali no shopping com o mesmo nome, na saída duas freiras distribuíam panfletos com frases como "Não tenha nada a ver com este filme, blasfêmia, etc).

Continuando, Aquele que deve morrer é o melhor dos quatro. Uma aldeia grega chefiada por um bispo conservador vai encenar a Paixão de Cristo para a Semana Santa. O problema é que habitantes de outro vilarejo, expulsos pelos turcos, aparecem famintos e desesperados na aldeia.

Está armado o cenário para Dassin, sobre o texto de Kazantizakis, tratar da hipocrisia humana e de como o poder se sustenta com base na tradição, na exploração dos mais fracos e na interpretação equivocada das escrituras.

Dassin tem uma sensibilidade especial para dirigir seus atores, para criar cenas de grupo com intensa movimentação de atores e sobretudo, para armar seus planos de forma econômica, funcional e original.

E sobretudo sabe valorizar o talento e os belos olhos de sua esposa, Melinda Mercouri, que foi Ministra da Cultura da Grécia. Ela está em Aquele que deve morrer e nos outros filmes.

Nunca aos Domingos mostra a paixao pelo cineasta pela cultura grega. Uma prostituta que só tem relações com quem quer, é adorada pela cidade pelo seu jeito simples e alegre. Um turista americano ( o próprio Dassin, que bem poderia ser o quarto integrante dos Três Patetas, pelo seu tipo desengonçado e cômico) quer transformá-la em uma mulher culta. É um filme ousado, libertário, divertido, que constrasta a chamada alta cultura com o estilo de vida voltado para o presente, epicurista mesmo.

A mitologia grega levou Dassin e atualizar Fedra, a trágica narrativa da mulher mais velha, segunda esposa de seu marido, que se apaixona pelo filho dele, mais jovem. Em Profanações, o pano de fundo é a indústria naval grega dos anos 50. O rapaz é Anthony Perkins, o filho-mãe (aiaiaiaiaa, contei...quem mandou nao ver Psicose????) da obra suprema de Hitchcok.

O mais fraquinho dos quatro títulos, mas nao menos divertido, é Topkapi, sobre um plano mirabolante para roubar uma jóia preciosa em um museu turco. Pelo menos aqui dá para ver Melinda, a mulher de Dassin, em cores.

Jules Dassin, pouquíssimo visto, pouquíssimo conhecido. Grande sujeito, morreu em março do ano passado.

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