domingo, 22 de novembro de 2009

Mysterios nos cinemas e o drama do filme nacional

Alertado pela querida Monica Rischbieter, fui assistir Mysterios, produção curitibana inspirada na obra O Mez da Gripe, de Valêncio Xavier. Estava ansioso pela estréia no circuito , o que aconteceu na última terça, mas só foi possível assistir no sábado. Como são gritantes os contrastes da vida e cinematográficos. No último sábado, passando no Estação, vi de perto a euforia teen com Lua Nova: nas sessões da tarde, as filas quase alcançavam a saída da Sete de Setembro.
À noite, do Arteplex do Crystal, eu e mais quatro pessoas na sessão das 21h30 para conferir Mysterios, um bom filme com elenco e equipe técnica aqui da terra. Não que me assuste uma sala quase vazia - sendo bem egoísta, ate prefiro assim, optando sempre pelas salas do Crystal e Novo Batel, o que é ótimo para um cinéfilo e péssimo para o exibidor. Cansei de ver filmes com 3, 2 ou sozinho mesmo - fora o projecionista. Filme nacional então, se nao tem o apelo básico (comédia + rostos da novela das oito) nao passa de dez, 12, pessoas por sessão. Isso, cá entre nós, contando com a saturação do ciclo de violência urbana, que arrebatou multidões com Cidade de Deus e Carandiru e hoje aposta em Salve Geral, que inclusive deve representar o Brasil no oscar de fita estrangeira. Nao vi números do Salve, mas por aqui assou bem em branco. Na sessão em que estive, menos de 1o pessoas em um domingo á noite, véspera de feriado. Nao é sequer o caso de tratar do filme em si, que tem seus problemas ao abordar os ataques do PCC do ponto de vista de quem os fomentou, com todo um discurso sociológico questionável, mas de pensar um pouco na dificuldade danada que o filme nacional enfrenta no circuitão.
Bom, fiz toda essa volta, mas queria mesmo falar do Mysterios. A Monica, uma das produtoras e roteiristas do filme, me avisa toda empolgada da estréia no Crystal, circuito que mantém a tradição de equilibrar títulos mais comerciais com obras alternativas, graças ao espírito do Adhemar Oliveira, que vive abrindo espaço nas salas que o Unibanco Arteplex tem em várias capitais para filmes nao-americanos e títulos nacionais sem estrutura forte de distribuição. É o sujeito que atende o cineasta guerreiro, aquele que marca um encontro com a lata de seu filme debaixo do braço e precisa de um espaço para fazer circular sua arte.
Conhecendo a sensibilidade, a inteligência, o entusiasmo e o bom humor da Monica Rischibieter, não creio que deve ter sido muito difícil para ele abrir uma sala para Mysterios aqui na capital. É um chute, pois desconheço os detalhes da estratégia de distribuição do filme, como ele será divulgado, se o boca a boca vai ser forte o suficiente para sustentar a virada na próxima sexta. Espero que sim
(continuo no post seguinte)

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