segunda-feira, 30 de novembro de 2009
Imagens do passado e música ao vivo no Teatro da Caixa
Belo e emocionante o espetáculo Cine Re-Sonar, apresentado no último fim de semana no teatro da Caixa. Imagens antigas, de Curitiba nas primeiras décadas do século, projetadas em uma tela com trila sonora executada ao vivo (atrás da tela) em arranjos para violino, teclado, violoncelo, violao, guiterra e percussão.
Até o final dos anos 30 quase todas as exibições tinham alguma forma de acompanhamento musical. Aqui mesmo em Curitiba o pioneiro Aníbal Requião - que em 1908 abre o Cine Smart, primeira sala com programação diária de filmes - acompanhava as imagens ao piano ou ao oboé.
Há muitos anos atrás tive a oportunidade de acompanhar a projeção de Nosferatu (nao tenho certeza absoluta se era este filme...) no finado Cine Ritz, com a trilha intepretada ao vivo por um pianista alemão e uma senhora que ia traduzindo os letreiros. Era uma promoção do Goethe, acho. Experiência marcante, sala lotada, na época ainda se ia muito aos cinemas de rua, se camainhava tranquiloamente pelo calçadão da XV, falando sobre o filme e decidindo em quel bar tomar a próxima cerveja.
O espetáculo de sabado, iniciativa do músico Vadeco, me fez lembrar estes tempos. As peças compostas pareciam dar vida a todas aquelas pessoas na tela. Todas já mortas há muito tempo, mas que pela magia do cinema voltaram a viver por alguns instantes.
Até o final dos anos 30 quase todas as exibições tinham alguma forma de acompanhamento musical. Aqui mesmo em Curitiba o pioneiro Aníbal Requião - que em 1908 abre o Cine Smart, primeira sala com programação diária de filmes - acompanhava as imagens ao piano ou ao oboé.
Há muitos anos atrás tive a oportunidade de acompanhar a projeção de Nosferatu (nao tenho certeza absoluta se era este filme...) no finado Cine Ritz, com a trilha intepretada ao vivo por um pianista alemão e uma senhora que ia traduzindo os letreiros. Era uma promoção do Goethe, acho. Experiência marcante, sala lotada, na época ainda se ia muito aos cinemas de rua, se camainhava tranquiloamente pelo calçadão da XV, falando sobre o filme e decidindo em quel bar tomar a próxima cerveja.
O espetáculo de sabado, iniciativa do músico Vadeco, me fez lembrar estes tempos. As peças compostas pareciam dar vida a todas aquelas pessoas na tela. Todas já mortas há muito tempo, mas que pela magia do cinema voltaram a viver por alguns instantes.
domingo, 22 de novembro de 2009
Mysterios é ode a Curitiba, ao cinema e aos pesadelos
Acabei me alongando demais no post anterior, mas a intenção era tratar do filme em si. Mysterios narra três contos, tendo como fio condutor justamente o mistério. No primeiro deles, uma moça desaparece ao dar uma volta no trem-fantasma do Parque Alvorada. Dos três segmentos, foi o que mais gostei. Tem um clima de nostalgia inocente do final dos anos 60, mais precisamente na mesma semana em que o homem pisa na lua. O tratamento visual e sonoro é impecável - uma marca que por sinal se mantém durante todo o filme. O Passeio Público com seus vendedores de mação do amor, o lambe-lambe interpretado pelo Hugo Mengarelli, a trilha pop-brega com "Se Deus Me Ouvisse", tudo remete a um tempo mais tranquilo, com menos correria, mais esponteneidade e simplicidade. Mas a intenção do filme nao é apenas recriar uma Curitiba que se perdeu. É partir desta cidade que o tempo esqueceu - quem lembra do divetido trem-fantasma do Alvorada? - que o filme mergulha no desaparecimento da garota. Em tempos de ditadura, a crônica policial explorou à exaustão este sumiço, o que permite ao filme um tratamento gráfico e sonoro bem modern, inserindo trechos de manchetes de jornais, imagens de livros antigos e narrações radiofônicas.
O segundo segmento trata da descoberta de fragmentos de um filme dos anos 20 em um galinheiro. Pouco se salva da fita erótica, pouco se sabe de seu realizador. É uma baita homenagem aos pioneiros do cinema paranaense, Anibal Requião e Joao Batista Groff, citados no trecho. A fotografia em PB consegue criar com riqueza de detalhes os trechos da fita danifica e direção de arte segura e inventiva traduz o clima erótico em torno de um grupo de belas jovens seminuas filmadas por um anônimo na provinciana Curitiba dos anso 20.
O terceiro segmento é o mais surreal dos três. Em um espetáculo de mágica, a assistente do ilusionista se fere durante a apresentação. Dizer isso nao siginifca nada. É o mesmo que citar sinopse em filme de David Lynch, cujo visual de pesadelo parece ter sido a fonte na qual beberam os realizadores do filme.
Os três contos são costurados pela presença de um narrador, interpretado por Carlos Vereza, que ora se limita a tentar interpretar o que vê, ora participa mais ativamente das situações.
É uma produção de um capricho especial na imagem e no som, que mostra a maturidade e a originalidade do cinema feito atualmente em Curitiba, que parece estar trilhando um caminho muito rico e pessoal, sem embarcar na fórmula do drama social de viés urbano - dominante nas produções paulistas e cariocas.
O trabalho dos diretores Beto Carminatti e Pedro Merege é sólido, ousado, detalhista e consegue explorar com habilidade a idéia de que o desconhecido, o estranho, o que nao se vê está mais presente na realidade do que a gente imagina. Mysterios é um exercício de sutilezas visuais e sonoras, uma homenagem a uma Curitiba perdida, uma ode ao cinema dos pioneiros e anônimos e um belo pesadelo em cores fortes.
Avisem os amigos , corram ver. Está no Crystal Arteplex.
O segundo segmento trata da descoberta de fragmentos de um filme dos anos 20 em um galinheiro. Pouco se salva da fita erótica, pouco se sabe de seu realizador. É uma baita homenagem aos pioneiros do cinema paranaense, Anibal Requião e Joao Batista Groff, citados no trecho. A fotografia em PB consegue criar com riqueza de detalhes os trechos da fita danifica e direção de arte segura e inventiva traduz o clima erótico em torno de um grupo de belas jovens seminuas filmadas por um anônimo na provinciana Curitiba dos anso 20.
O terceiro segmento é o mais surreal dos três. Em um espetáculo de mágica, a assistente do ilusionista se fere durante a apresentação. Dizer isso nao siginifca nada. É o mesmo que citar sinopse em filme de David Lynch, cujo visual de pesadelo parece ter sido a fonte na qual beberam os realizadores do filme.
Os três contos são costurados pela presença de um narrador, interpretado por Carlos Vereza, que ora se limita a tentar interpretar o que vê, ora participa mais ativamente das situações.
É uma produção de um capricho especial na imagem e no som, que mostra a maturidade e a originalidade do cinema feito atualmente em Curitiba, que parece estar trilhando um caminho muito rico e pessoal, sem embarcar na fórmula do drama social de viés urbano - dominante nas produções paulistas e cariocas.
O trabalho dos diretores Beto Carminatti e Pedro Merege é sólido, ousado, detalhista e consegue explorar com habilidade a idéia de que o desconhecido, o estranho, o que nao se vê está mais presente na realidade do que a gente imagina. Mysterios é um exercício de sutilezas visuais e sonoras, uma homenagem a uma Curitiba perdida, uma ode ao cinema dos pioneiros e anônimos e um belo pesadelo em cores fortes.
Avisem os amigos , corram ver. Está no Crystal Arteplex.
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FLFP
às
11/22/2009 08:28:00 PM
Mysterios nos cinemas e o drama do filme nacional
Alertado pela querida Monica Rischbieter, fui assistir Mysterios, produção curitibana inspirada na obra O Mez da Gripe, de Valêncio Xavier. Estava ansioso pela estréia no circuito , o que aconteceu na última terça, mas só foi possível assistir no sábado. Como são gritantes os contrastes da vida e cinematográficos. No último sábado, passando no Estação, vi de perto a euforia teen com Lua Nova: nas sessões da tarde, as filas quase alcançavam a saída da Sete de Setembro.
À noite, do Arteplex do Crystal, eu e mais quatro pessoas na sessão das 21h30 para conferir Mysterios, um bom filme com elenco e equipe técnica aqui da terra. Não que me assuste uma sala quase vazia - sendo bem egoísta, ate prefiro assim, optando sempre pelas salas do Crystal e Novo Batel, o que é ótimo para um cinéfilo e péssimo para o exibidor. Cansei de ver filmes com 3, 2 ou sozinho mesmo - fora o projecionista. Filme nacional então, se nao tem o apelo básico (comédia + rostos da novela das oito) nao passa de dez, 12, pessoas por sessão. Isso, cá entre nós, contando com a saturação do ciclo de violência urbana, que arrebatou multidões com Cidade de Deus e Carandiru e hoje aposta em Salve Geral, que inclusive deve representar o Brasil no oscar de fita estrangeira. Nao vi números do Salve, mas por aqui assou bem em branco. Na sessão em que estive, menos de 1o pessoas em um domingo á noite, véspera de feriado. Nao é sequer o caso de tratar do filme em si, que tem seus problemas ao abordar os ataques do PCC do ponto de vista de quem os fomentou, com todo um discurso sociológico questionável, mas de pensar um pouco na dificuldade danada que o filme nacional enfrenta no circuitão.
Bom, fiz toda essa volta, mas queria mesmo falar do Mysterios. A Monica, uma das produtoras e roteiristas do filme, me avisa toda empolgada da estréia no Crystal, circuito que mantém a tradição de equilibrar títulos mais comerciais com obras alternativas, graças ao espírito do Adhemar Oliveira, que vive abrindo espaço nas salas que o Unibanco Arteplex tem em várias capitais para filmes nao-americanos e títulos nacionais sem estrutura forte de distribuição. É o sujeito que atende o cineasta guerreiro, aquele que marca um encontro com a lata de seu filme debaixo do braço e precisa de um espaço para fazer circular sua arte.
Conhecendo a sensibilidade, a inteligência, o entusiasmo e o bom humor da Monica Rischibieter, não creio que deve ter sido muito difícil para ele abrir uma sala para Mysterios aqui na capital. É um chute, pois desconheço os detalhes da estratégia de distribuição do filme, como ele será divulgado, se o boca a boca vai ser forte o suficiente para sustentar a virada na próxima sexta. Espero que sim
(continuo no post seguinte)
À noite, do Arteplex do Crystal, eu e mais quatro pessoas na sessão das 21h30 para conferir Mysterios, um bom filme com elenco e equipe técnica aqui da terra. Não que me assuste uma sala quase vazia - sendo bem egoísta, ate prefiro assim, optando sempre pelas salas do Crystal e Novo Batel, o que é ótimo para um cinéfilo e péssimo para o exibidor. Cansei de ver filmes com 3, 2 ou sozinho mesmo - fora o projecionista. Filme nacional então, se nao tem o apelo básico (comédia + rostos da novela das oito) nao passa de dez, 12, pessoas por sessão. Isso, cá entre nós, contando com a saturação do ciclo de violência urbana, que arrebatou multidões com Cidade de Deus e Carandiru e hoje aposta em Salve Geral, que inclusive deve representar o Brasil no oscar de fita estrangeira. Nao vi números do Salve, mas por aqui assou bem em branco. Na sessão em que estive, menos de 1o pessoas em um domingo á noite, véspera de feriado. Nao é sequer o caso de tratar do filme em si, que tem seus problemas ao abordar os ataques do PCC do ponto de vista de quem os fomentou, com todo um discurso sociológico questionável, mas de pensar um pouco na dificuldade danada que o filme nacional enfrenta no circuitão.
Bom, fiz toda essa volta, mas queria mesmo falar do Mysterios. A Monica, uma das produtoras e roteiristas do filme, me avisa toda empolgada da estréia no Crystal, circuito que mantém a tradição de equilibrar títulos mais comerciais com obras alternativas, graças ao espírito do Adhemar Oliveira, que vive abrindo espaço nas salas que o Unibanco Arteplex tem em várias capitais para filmes nao-americanos e títulos nacionais sem estrutura forte de distribuição. É o sujeito que atende o cineasta guerreiro, aquele que marca um encontro com a lata de seu filme debaixo do braço e precisa de um espaço para fazer circular sua arte.
Conhecendo a sensibilidade, a inteligência, o entusiasmo e o bom humor da Monica Rischibieter, não creio que deve ter sido muito difícil para ele abrir uma sala para Mysterios aqui na capital. É um chute, pois desconheço os detalhes da estratégia de distribuição do filme, como ele será divulgado, se o boca a boca vai ser forte o suficiente para sustentar a virada na próxima sexta. Espero que sim
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FLFP
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11/22/2009 08:08:00 PM
sábado, 14 de novembro de 2009
O polêmico e inventivo Herzog abre sua escola de cinema
Diretor de grandes filmes como “Fitzcarraldo”, “O Enigma de Kasper Hauser” e “O Homem Urso”, o alemão Werner Herzog abriu uma escola de cinema. Mas, como se trata de Herzog, não espere uma escola comum. Entre os mandamentos da Rogue Film School, publicados no site da escola, estão os seguintes:
“A Rogue Film School não irá ensinar nenhuma técnica relacionada a cinema. Para esse fim, por favor matricule-se na escola de cinema mais perto de você.”
“A Rogue Film School é sobre um estilo de vida. É sobre um clima, a excitação que torna um filme possível. É sobre poesia, filmes, imagens, literatura.”
“O foco dos seminários será um diálogo com Werner Herzog, em que os participantes irão encontrar sua voz para seus projetos, seus questionamentos, suas aspirações.”
“Trechos dos filmes serão debatidos, e isso pode incluir os seus. Dependendo do material, a atenção irá se concentrar em questões essenciais: Como a música funciona em um filme? Como narrar uma história (isso certamente irá se distanciar das lições acéfalas sobre roteiros em três atos)? Como sensibilizar o público? Como o espaço é criado e entendido pelos espectadores? Como produzir e editar um filme? Como iluminar o público e criar o êxtase da verdade?”
“Outros assuntos relacionados serão: viajar a pé, a alegria de ser alvo de tiros malsucedidos, o lado atlético do cinema, a falsificação de permissões de filmagem, a neutralização da burocracia, táticas de guerrilha, autoconfiança.”
“A censura será estimulada. Não haverá conversas sobre xamãs, classes de yoga, valores nutricionais, chás de ervas, a descoberta dos próprios limites, crescimento interno.”
“Siga sua visão. Forme células secretas da Rogue em todos os lugares. Ao mesmo tempo, não tenha medo da solidão.”
O primeiro seminário será em Los Angeles, de 8 a 10 de janeiro, e custará US$ 1.450.
“A Rogue Film School não irá ensinar nenhuma técnica relacionada a cinema. Para esse fim, por favor matricule-se na escola de cinema mais perto de você.”
“A Rogue Film School é sobre um estilo de vida. É sobre um clima, a excitação que torna um filme possível. É sobre poesia, filmes, imagens, literatura.”
“O foco dos seminários será um diálogo com Werner Herzog, em que os participantes irão encontrar sua voz para seus projetos, seus questionamentos, suas aspirações.”
“Trechos dos filmes serão debatidos, e isso pode incluir os seus. Dependendo do material, a atenção irá se concentrar em questões essenciais: Como a música funciona em um filme? Como narrar uma história (isso certamente irá se distanciar das lições acéfalas sobre roteiros em três atos)? Como sensibilizar o público? Como o espaço é criado e entendido pelos espectadores? Como produzir e editar um filme? Como iluminar o público e criar o êxtase da verdade?”
“Outros assuntos relacionados serão: viajar a pé, a alegria de ser alvo de tiros malsucedidos, o lado atlético do cinema, a falsificação de permissões de filmagem, a neutralização da burocracia, táticas de guerrilha, autoconfiança.”
“A censura será estimulada. Não haverá conversas sobre xamãs, classes de yoga, valores nutricionais, chás de ervas, a descoberta dos próprios limites, crescimento interno.”
“Siga sua visão. Forme células secretas da Rogue em todos os lugares. Ao mesmo tempo, não tenha medo da solidão.”
O primeiro seminário será em Los Angeles, de 8 a 10 de janeiro, e custará US$ 1.450.
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